Acordando as sílabas dilatadas que das
árvores de deus
descem melancolicamente os guindastes
húmidos da paixão
há uma janela em desejo
que uma abelha pintada de vermelho
atormenta
quando a insónia do crucifixo de prata
entra no corpo cansado do jovem com
olhos de luar
há um corpo dentro do corpo do jovem
com olhos de luar
há uma janela
uma abelha
um silêncio de luz
nas paredes frias dos teus lábios
ensonados,
acordando sílabas
enquanto a noite desenha em ti os
fluídos da astronomia
dilatadas que das árvores de deus
há uma janela com acesso ao sótão do
medo
há coisas nas mãos do medo
que eu tenho medo de prenunciar
gritar
escrever nas paredes invisíveis do
quarto escuro com tecto de vidro
falsamente ignorados pelo jovem dos
olhos de luar
acorrentados
todos
todas,
há ou não há não sei uma canção
com sorrisos de leite
e mãos calejadas
que os montículos de lixo argamassaram
nos calções de uma carta de amor
há ou não há
vai havendo rabanadas
gaivotas
e barcos travestidos de maré com
cabelos de espuma em brando lume
a lareira
o ciúme
há
não há
vai havendo suspiros de iodo
embrulhados em papel de chocolate.
(poema não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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