a inventar beijos nos
poemas perdidos, coitados deles, elas, deles, aqueles infelizes que
escrevem nas nuvens e inventam beijos, delas, aquelas magras sílabas
que o Outono come e a lareira dilui das mandíbulas engasgadas do
ciúme, mútuo, longínqua manhã das palavras prometidas, delas,
elas coitadas feridas, à janela, sem forças para sorrir, sorri ele
à lapela do silêncio moribundo, húmidas coxas que a maré desenha
nos rochedos das noites a inventar beijos, a jogar beijos nos dados
viciados sobre a mesa do diabo, ele, coitado, apaixonado,
ele, coitado, teso,
falido, a inventar beijos no crepúsculo esqueleto ósseo que as
navalhas da miséria constrói, digo-o novamente entre parêntesis,
(destrói), digo-o Novembro em constante doçura que as mãos dos
teus lábios em tuas tristes vozes, inventas os beijos, rochedos,
ruas e montras com portas de vidro, escadas que dão acesso ao céu,
esmolas, pedacinhos de pão com manteiga, esfolas, elas de mini-saia,
eles engraçados como as rosas dos jardins da rua sonolenta onde
dormem os camelos do deserto, outros pedacinhos de pão com
marmelada, apaixonado, ela, ele, coitada, coitado, por ele, por ela,
dentro dele, dentro dela, sobre o rio infinito encurvado, torto às
vezes, muitas vezes, perguntas-me quando regresso, De onde vens tu
meu safado?, respondo-te docemente
da lua minha querida
entre parêntesis (doce apaixonada janela)
frívola, as tuas mãos
no meu rosto, não acreditas, gritas, lamentas-te aos espelhos
clandestinos dos versos a inventar beijos nos lábios coitados, eles
e elas, as palavras e as janelas, frívola, tu, não acreditas,
sorris, eu minto-te, aldrabão, charlatão, vigarista, poeta,
sindicalista, juro minha querida, da lua minha querida entre
parêntesis (doce apaixonada janela), venho aos teus braços, meu
doce marido,
doce apaixonada janela.
inventas beijos, inventas
lágrimas de gesso, inventas palavras de arsénio, inventas o
sofrimento, o vento, e o suicídio dos poemas beijados pela lua,
inventas-me os lábios e as minhas olheiras, inventas-me as noites de
solidão à lareira, e entre parêntesis escrevo-o em ti e para ti ai
de nós se os alicerces da insónia desabam sobre os oceanos de
sémen, e entre parêntesis escrevo-o
(a inventar beijos nos
poemas perdidos)
ele a folhear revistas
pornográficas à janela bela Almirante Reis, frívola, as tuas mãos
no meu rosto, não acreditas, gritas, lamentas-te aos espelhos
clandestinos dos versos a inventar beijos nos lábios coitados, eles
à pancada, avenida abaixo, janela acima, gritas-me, e não
acreditas, avenida abaixo, abaixo o governo, frívola, mentes-me
oiço-o quando subo as escadas, sacudo as quatro paredes do teu
quarto escuro, imundo, abaixo o governo, abaixo as luzes ténues das
cidades, os semáforos, as vaidades, o cus e as pernas e as coxas,
deles e delas, verde, amarelo, encarnado, inchado, emagrecida ela
entre parêntesis escrevo-lhe, escrevo-lhe
(a puta da tua mãe minha
querida comeu todas as ervas do meu jardim, mentes-me, eu minto-te,
não regresso, adio, fico à espera que adormeças e te transformes
em putrefacção, fico à espera, não desisto, a puta da tua mãe
comeu os meus cigarros loiros com olhos azuis, fico à espera, em
desejo, foda-se, perco o medo, a inventar beijos nos poemas
perdidos, coitados deles, elas, deles, aqueles infelizes que escrevem
nas nuvens e inventam beijos, delas, aquelas magras sílabas que o
Outono come e a lareira dilui das mandíbulas engasgadas do ciúme,
mútuo, longínqua manhã das palavras prometidas, delas, elas
coitadas feridas),
só para mim, amarelo,
encarnado, STOP, paro o carro, abro a janelinha de amendoim, peço
uma imperial, e juro meu amor, juro que não vou levar a mal por te
ires embora, juro que não vou ficar triste pela tua ausência, juro
entre
(parêntesis)
que às vezes pareço
feliz infeliz solitariamente na sombra de um guindaste de aço a
olhar docemente os seios de diamante que o mar tem em cada olhar, só
para mim, amarelo, encarnado, STOP, paro o carro, apetece-me correr,
não de ver, ouvir, gritar
estou aqui
ali, ele, ela, ele e ela,
na cama do amor com pedacinhos de pão com manteiga, na cama do amor
com pedacinhos de pão com marmelada, na cama do amor com pedacinhos
de pão com beijos, tu, malvada, malvado, inventas-me, e inventas
beijos nos poemas perdidos,
estou aqui
deitado, ao teu lado,
calado, em silêncio, acorrentado às mentiras das janelas frívolas
que tu gritas antes de adormecer, que tu gritas quando és penetrada,
as portas dos quartos suspensas nos infelizes gemidos das palavras,
inventadas, inventas-me hoje, só hoje
(parêntesis)
estou aqui
(parêntesis)
em pânico.
(texto de ficção não
revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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