Voar
sobre o feitiço dos teus olhos
pegar na tua mão
e navegar nas páginas de insónia do livro de poesia
com sabor a mar
e nos lábios
as sílabas amareladas que o silêncio tece
nos pergaminhos do desejo
voar
sobre o feitiço dos teus olhos
voar entre o fim de tarde na Ajuda
e a noite envergonhada no Bairro Alto
voar
voar nos teus olhos de telegrama
junto ao stop do borbulhar afagado dos teus loiros cabelos
da areia do deserto
voar
sobre o feitiço dos teus olhos
voar sem medo de cair nos espelhos da noite
com as cabeleiras postiças
e nas coxas as rimas desgovernadas de um lírio
que acompanham a morte em aço inoxidável
e finíssimos fios de luz
nos braços do xisto solitário
e o infinito amar
nas tuas mãos ruivas
e aos teus cabelos de pétala cansada
voar
abro a janela
e vou à procura do feitiço dos teus olhos
algures
dentro de um cubo de vidro
no fundo do mar
como todas as noites
(tristes e com medo dos espelhos invisíveis)
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