terça-feira, 6 de março de 2012

Janela de tungsténio

Apenas uma janela de tungsténio
Me separa do mar
Oiço-o mas não o vejo
Sinto-lhe as mãos sobre o meu rosto
Quando das paredes de vidro do cubo
Uma abelha cintila e chama a noite
Os cortinados cerram-se
E caminham em direção ao imaginário mundo adormecido
Me separa do mar
E vejo o meu rosto curvilíneo
Projetado num beijo
Em desejo
Na boca do cansaço
Que desce pela garganta de um cigarro fictício
Embrulhado em fumo tricolor
E as paredes do cubo começam a engordar

(estou só)

O magala de mãos na algibeira
Olha o rio
E uma sombra abraça-o
E ouvem-se gemidos geométricos
Dentro do cubo de vidro
O espelho finge orgasmos
E o candeeiro mergulha no papel de parede
Depois de acordar a noite
Depois do prazer
Antes de todas as nuvens extinguirem-se contra as rochas
Às quatro horas da madrugada
Noite cinzenta

(estou só)

E o Tejo deixa de ser Tejo.

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