domingo, 22 de janeiro de 2012

O jeitoso engomado

O jeitoso engomado encosta-se ao parapeito do vento, pesca um cigarro entre os destroços da algibeira e acende-o com a lente dos óculos, a princípio gotinhas de fumo dispersam-se pelas marés ruivas da tarde, depois, gargalhadas de fumo contra os uivos fabricados no sótão do prédio em frente,
- Ai Ui Foi tão bom,
O cigarro incha e cresce na boca dele como se fosse uma barra metálica ou um pénis argamassado entre o beiral e a clavícula do mendigo sentado no passeio a pedir esmola queixando-se que a reforma não chega para viver, o pénis furiosíssimo
- Não chega? E eu quase sempre teso,
Furiosíssima a clavícula pendura-se na cabeça do mendigo e o jeitoso com voz de malmequer,
- A menina dança?
E que não Não sei dançar responde-lhe a menina,
- Ai Ui Foi tão bom,
O jeitoso engomado pega nos restos mortais do cigarro e entrega-os ao senhor proprietário da funerária onde num pedaço de cartão pendurado sobre a entrada podia ler-se “FASEMOS INTERROS SEM FATORA”, combinam o preço e o jeitoso engomado ao sair do estabelecimento comercial manda foder o mendigo e diz para a clavícula
- Foi tão bom,
E diz para a clavícula Hoje foi um dia de merda, e em passos clandestinos desce a calçada em direção ao rio.

(texto de ficção)

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