quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Os barcos da Ajuda


Procuro nas minhas mãos de iodo
os pequeníssimos gemidos dos barcos da Ajuda
dentro dos muros invisíveis da solidão,

procuro
e não encontro os teus lábios de desejo
que a minha boca
pouca
às vezes um pouco louca
nas veredas janelas de pano cor de madrugada,

procuro nas minhas mãos de iodo
os pigmentos siderais da tua pele
onde escreverei os meus loucos poemas
em chama
a fogueira do teu púbis construído de marés longínquas
da voz cansada do luar,

desenharei abraços com sabor a mel
e chocolate
com laços de braços
em redor do teu pescoço submerso no meu peito...
nas minhas mãos de iodo
o teu amor vestido de noite com estrelas no loiro cabelo.

(poema não revisto)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ardente a tua singela cama


Às areias clandestinas da tua cama
os braços de silêncio
nas doces rosas que transpiram tua dor
os cansaços diversos
amargos
doidos quando os sentidos fictícios correm nas esplanadas da fome
cansaços teus lábios ou desejo
dos gemidos tua boca,

Às areias clandestinas
onde dormem os beijos abraços
da tua cama amargos traços
que o tempo inventa em loiras meninas,

Às areias clandestinas da tua cama
o submerso pedaço de xisto enferrujado nas oliveiras apaixonadas
os barcos os barcos em sítios proibidos pelas palavras cansadas
do prazer corpo teu delírio em chama,

Ardente
a tua singela cama
à areia clandestina que sente
os verdes olhos do mar que ama,

Às areias clandestinas da tua cama
os versos meus apenas com carícias na tela teu corpo de chocolate
as coisas belas
as rosas amarelas
que do jardim do amor crescem como palavras na boca minha gente
tão feliz eu contente
com o significado inexplicável do prazer de quem não sente
o prazer de sentir as coisas belas da minha amante.

(poema não revisto)

A saliva púrpura das carícias invisíveis


Procuras-me nas pálpebras cinzentas húmidas da madrugada
como se eu fosse um livro de poemas
adormecido sobre a tua mesa-de-cabeceira ausente da claridade
os petroleiros atravessando o Tejo
fundeados no teu peito
a saliva púrpura das carícias invisíveis que teces nas folhas das árvores
quando gaguejas os gemidos das manhãs dos pássaros cansados
nas rosas perfume colorido,

Senti as magrezas ósseas das sombras
sem ti nos meus abraços de porcelana
ao longe as pedras da escrita
perpétuas nas sílabas infinitas que as coxas tuas escondem
quando a noite misturada com a lua
dorme docemente sem saber que na rua sem saída
saltitam lágrimas de choque
na borracha clandestina das gargantas dos oceanos de Belém,

As tuas cartas semeadas na planície das palavras
oiço a tua voz no transverso esforço do Outono
quando os socalcos imaginados por abelhas estonteantes
e em pequeníssimos voos rasantes
rasgam as nuvens cor de vinho
da tarde transfigurada no alimento desejado
das tão afamadas telas de pó de xisto e neblinas de oiro...
e cai a noite nos arcos de vidro da tristeza.

(poema não revisto)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A noite circunflexa das amêndoas com chocolate


Acreditava ela na paixão dos homens
e nas sílabas zangadas que a manhã de Outono constrói sobre o mar
acreditava ela que a cidade flutuava nas calçadas enferrujadas
que sobejavam dos pedaços de saliva
que o aço inoxidável da boca
transportava para o jardim da solidão,

Acreditava ela na paixão dos homens
que os espelhos dos quartos enfeitados com as luzes dos sonhos
desenhavam na lareira ardósia do silêncio
sem perceber que a paixão existe dentro das mãos de vidro
que os homens
que os homens trazem nas algibeiras de pano amarrotado,

o verde incenso das folhas de papel que as árvores comem na madrugada
com todos os pássaros sofrendo os cansaços do vento
da chuva sobre o pequeníssimo orgasmo das palavras
poisam na secretária de madeira
com as fotografias cadáver
da casa abandonada no centro da eira do medo,

acreditava ela
a noite circunflexa das amêndoas com chocolate
que os homens vivem nas janelas de papel
com as rosas púrpuras do desejo
acreditava ela
a noite sem os homens de palha com as estrelas de orvalho...

(poema não revisto)

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