quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O vinho do amor

De um cubo de vidro
habita o desejo vinícola dos teus seios amargurados
suspensos no abismo do sumo tentacular do silêncio
o teu corpo no meu corpo
um só cacho de sabor
que alimenta o vinho do amor

há abelhas que se masturbam sobre as tuas mãos
brincam
um rio e uma criança
e um homem com um chapéu de xisto sentado nas tuas coxas
poisa a enxada invisível sobre a mesa do jantar
enquanto inventas pasteis de nata e queijo de cabra
o homem entra nas tuas coxas com pálpebras de milho
e as torradas do pequeno-almoço
fingem um orgasmo de aveia
brincam
ele e ela e milímetros cúbicos de mosto dentro do cubo de vidro

gosto de ti recheada com as manhãs de chuva
quando as algibeiras das janelas de vidro
mergulham suavemente nos teus lábios

gosto de ti recheada de rosas amarelas e nuvens de prata
a uma só voz
sobressai
sobressai um gemido misto
e nas paredes do cubo de vidro
e nas paredes do cubo de vidro
a tua língua como uma caneta de tinta permanente
percorre o meu corpo de pergaminho

(poema não revisto)

Em destaque no Sapo Angola


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Pequenas cintilações de um corpo em delírio

Loucas uvas que o desejo teu corpo absorve
como a esponja do amanhecer que engole os pedacinhos de sol
que a noite
aos poucos
vai vomitando contra as janelas do prazer

cintilam em ti
(dentro de vossemecê menina desejada pelas árvores dos jardins da Babilónia
onde crescem os poemas de Outono)
cintilam em ti os gladíolos teus olhos sobre os lençóis de linho que uma abelha teceu
entre os voos circunflexos imaginados na voz rouca de um louco
que te excita antes de adormeceres
cintilam
cintilam as loucas uvas que o desejo constrói nas tuas coxas suspiros e uivos de Primavera

loucas
as paixões que a fermentação do amor
desenha no teu púbis os silêncios da maré

loucas uvas
como a esponja do amor
que o desejo teu corpo
a noite
na noite
escreve os longínquos orgasmos de papel acetinado...

(poema não revisto)