quarta-feira, 11 de janeiro de 2012


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Acreditar

Porque desistem os pássaros de voar
E o rio de correr para o mar
Porque desistem as árvores de sonhar
E a lua do luar

Porque desiste a noite de me abraçar
E a estrela de me iluminar
Porque caminho sem caminhar
E deus se recusa a me olhar

Porque peço ajuda e ninguém me quer ajudar…

E os pássaros
E o rio
E as árvores
E a lua
E a anoite
E a estrela
E o caminho
E deus

Em mim deixaram de acredita

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Desistir

Desistir quando as nuvens da manhã
Se alicerçam à montanha em solidão
Desistir de olhar o mar
E brincar no rio
Desistir de lutar
Baixar os braços na terra semeada de sofrimento

Desistir das palavras
E das árvores que tombam no chão
Desistir
Cerrar os olhos no cansaço do vento

Desistir de pintar
Desistir de escrever
Desistir de sonhar
Desistir de viver

Se alicerçam à montanha em solidão
Desistir de olhar o mar

Desistir de caminhar
Sobre as sombras da noite
Desistir da lua e do luar
E adormecer eternamente sem acordar

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012


84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

Ser feliz

E se eu me deitasse homem
E acordasse pássaro
E se eu me deitasse miserável
E acordasse com algum dinheiro na algibeira…

Mas nem consigo acordar pássaro
Nem tão pouco cresce dinheiro na minha algibeira

E vão dizer
- Dinheiro não é felicidade
Ai que não é
Claro que o dinheiro é felicidade
Experimentem pedir fiado um café
Um maço de cigarros
Ou na mercearia…
E vão perceber a humilhação

E vão perceber a alegria
Daqueles que escutam e olham
Um feliz sem dinheiro
O que interessa eu ser feliz
Se sou um miserável
Se sou humilhado

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

O centro da eira

Não sei se está vento
No meu corpo encalhado
Se estou gordo
Ou magro

Não sei se deva continuar a escrever
Ou simplesmente me sentar
Ver a manhã a morrer
Nos braços do mar

Não sei o que são gaivotas
Ou poemas de amar
Sei o que eram almas mortas
Na Rússia do Czar

E tal como Gogol
Pego na minha escrita
E faço uma fogueira
E tudo desaparece no centro da eira

domingo, 8 de janeiro de 2012

As palavras

De que me servem as palavras
Se eu não como palavras
Não bebo palavras
Nem fumo palavras

De que me servem as malditas palavras
Que crescem na minha cabeça

Se eu não como palavras
Não bebo palavras
Nem fumo palavras

Malditas palavras que enlouquecem
A minha pobre cabeça
Se eu não como palavras
Não bebo palavras
Nem fumo palavras
De que me servem as palavras?

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha