Acreditava ela na paixão
dos homens
e nas sílabas zangadas
que a manhã de Outono constrói sobre o mar
acreditava ela que a
cidade flutuava nas calçadas enferrujadas
que sobejavam dos pedaços
de saliva
que o aço inoxidável da
boca
transportava para o
jardim da solidão,
Acreditava ela na paixão
dos homens
que os espelhos dos
quartos enfeitados com as luzes dos sonhos
desenhavam na lareira
ardósia do silêncio
sem perceber que a paixão
existe dentro das mãos de vidro
que os homens
que os homens trazem nas
algibeiras de pano amarrotado,
o verde incenso das
folhas de papel que as árvores comem na madrugada
com todos os pássaros
sofrendo os cansaços do vento
da chuva sobre o
pequeníssimo orgasmo das palavras
poisam na secretária de
madeira
com as fotografias
cadáver
da casa abandonada no
centro da eira do medo,
acreditava ela
a noite circunflexa das
amêndoas com chocolate
que os homens vivem nas
janelas de papel
com as rosas-púrpuras do
desejo
acreditava ela
a noite sem os homens de
palha com as estrelas de orvalho...