domingo, 28 de janeiro de 2024

Pedra de sentar

 

Pedra de sentar, pedra no erguer

Pedra de atirar

Na pedra de ter

 

Pedra de sentar, pedra na insónia madrugada

Pedra do mar

Da pedra atirada

 

Pedra de sentar, pedra que não se cansa de sorrir…

Na pedra de atirar

Quando o sono vai partir

 

Pedra de sentar, pedra de amanhecer

Pedra ao levantar

Na pedra de ser.

 

 

28/01/2024

O menino

 

Vai a estrada sem destino, regressa à seara

O menino

Do trigo ao centeio

Na chuva miudinha

Com esplanadas viradas para o sol

 

Tão certinho

O menino

Ó razão de caminhar

Agarra-te à vida

Ao menino

Menino do mar

 

Vai a estrada sem destino, está na estrada

Um sorriso pequenino

Na maré que vem da madrugada

O café e a torrada

A lareira e o feiticeiro

Vai na estrada o menino

Vem da estrada a ribeira

E ao longe o engenheiro

 

O poeta sem palavras, vem da estrada o menino

Vai na estrada um barco de brincar

Ouve-se na estrada o sino

Que não se cansa de tocar

 

Vai a estrada sem destino, está na lua o menino

Há um buraco negro na estrada

Tão negro como o carvão

Tão puro como a água cristalina

Vai na estrada o menino, está na estrada a menina

Vai a estrada sem destino, está na estrada a tua mão

 

 

 

28/01/2024

Os teus olhos

 

Os teus olhos são as sanzalas da minha infância, são as palavras que se escondiam no silêncio capim,

Da minha infância.

 

Os teus olhos são os latidos dos mabecos, são a chuva que queimava a terra,

Na tarde que se despedia, e trazia

A noite.

 

Os teus olhos são o perfume da tua sombra, entre os parêntesis libertinos do sono, uma onda se abraça à lua, quando em ti, brinca uma estrela-do-mar.

 

Tão distante, a ausência

O lume,

Tão distante a distancia

O mar

Tão pequeno o sorriso da abelha

Tão pouco doce

O mel

A colmeia.

 

Tão lúcidos os teus olhos

Na página deste livro que se ergue sob o luar,

Triste maré nos teus olhos,

Pedindo paz,

Pedindo um abraço…

 

Os teus olhos são o cansaço.

 

 

28/01/2024

Terra prometida

 

As bocas em dia por fome

No livro que em despedida

Escreve na terra um nome

Escreve na terra prometida

 

E o dia por prometer

Uma mão ensanguentada

Sem saber se pode escrever

Nos olhos de sua amada

 

O poema é canção

É a palavra ao acordar

Quando o coração

 

É uma estrada envergonhada

O poema é filho do mar

E tem como mãe a madrugada

 

 

28/01/2024

sábado, 27 de janeiro de 2024

Arte

 

A arte de ser

Quando a arte é ter

É viver

Quando a arte é vencer

E escrever

Sem ter medo de ser

Arte

Sem ter medo de o ser

 

 

27/01/2024

Café

 

Esta neblina

Que nos abraça e contempla

O dia é um pequeno suspiro

Um café mal dormido

Um cigarro maldisposto

Na boca do mendigo

 

Esta neblina

Cacimbo da infância

Fogueira em teu olhar

E que o dia seja a paisagem junto ao mar

E seja poesia

E seja amar

 

O dia

Esta neblina que nos prende à lareira

Que traz livros e poemas e alegria

Que o amor esteja nos nossos corações

Que os pássaros sejam a melodia

Da neblina que nos abraça

 

 

27/01/2024

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Tarde

 

A tarde, despe-se

Aos poucos, regressa a noite

Meia envergonhada

Ensonada

Ainda,

 

Senta-se junto à lareira

Puxa de um cigarro

Abre um livro

E lê,

 

Lê e escreve

Que a noite já se instalou

Que traz o vento

Para afugentar a neblina

E que amanhã é sábado,

 

Que as lágrimas agora são estrelas

Que os cortinados das janelas são coloridos

Quando eram panos pretos,

 

Que a noite é um jardim de desejo

Com flores

Com árvores e pássaros…

E às vezes, a chuva veste-se de sol,

 

E a tarde, já foi

Deixou de o ser

Mesmo assim,

A tarde é sempre um poema

Uma lareira nos teus lábios.

 

 

26/01/2024