segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Mísero viver

 

Triste é o dia

Que se ergue neste mísero viver

Que nem a chuva consegue libertar…

Que nem a poesia

Sabe compreender.

Triste é o dia

Neste dia de chorar.

 

15/01/2024

domingo, 14 de janeiro de 2024

Partida

 

Partimos em direcção ao mar

Levamos connosco alguns livros

Partimos para não mais voltar

Simplesmente

Partimos.

 

Partimos e levamos livros

Levamos cartas

Que escrevemos

Que nunca tivemos coragem de enviar.

 

Partimos

Então

Como se fossemos dois pássaros

Livres

Invisíveis à maré.

 

 

14/01/2024

Nuvens

 

Às vezes, é triste esta vida de sobreviver, não vivendo

Às vezes, o sol veste-se de nego, o silêncio abraça-se ao ruido, e lá fora, o céu está completamente cheio de nuvens,

Negras.

 

Às vezes, tudo isto, às vezes, nada disto, mais tudo isto de que nada disto

Como diria o poeta;

Hoje não quero acordar.

Recuso-me a acordar.

 

Às vezes, é triste esta vida de sobreviver, não vivendo

Tão triste,

Mãe.

Tão triste.

 

14/01/2024

Flor do vento

 

Somos o trigo na flor do vento

Somos a jangada que amansa a manhã

Somos o tempo

Somos o fogo quando a noite é brasa

Somos lume

Somos asa

Somos o trigo em flor

Do vento

Em trigo

 

Somos gente apressada

Somos a chuva

E às vezes

Não somos nada

 

Somos a cidade

Somos as ruas da cidade

Somos o trigo quando o trigo não tem idade

Somos barco para a outra margem

Somos a ponte

Somos a fonte

Somos a água límpida do pinheiral

Somos a fome

E somos a necrologia do jornal.

 

 

14/01/2024

O veneno mel

 

Morres-me em cada equação que resolvo,

Morres-me em cada poema que escrevo,

Em cada manhã que acorda.

Morres-me em cada mar que sofre

E implora

Que não me morras.

 

Morres-me quando se ergue o sol

E ilumina os campos de milho de Carvalhais,

Oiço ao longe o sino da igreja,

Oiço ao perto,

O moinho eléctrico do tio Serafim,

E ficava horas à janela a olhar os melros.

 

Morres-me quando a noite é insónia,

E penso que será melhor assim,

Morreres-me antes que seja dia.

Morres-me quando uma fina lâmina de sémen

Pois nos lençóis do silêncio…

E uma abelha deixa nos teus lábios o veneno mel.

 

 

14/01/2024

Agosto

 

É uma lágrima de rosa, a tua mão no meu rosto

É o jardim da madrugada, que todos os dias ao acordar

Me faz lembrar as noites de Agosto

E as tardes junto ao mar.

 

 

14/01/2024

Os teus olhos

 



São tão meus os teus olhos, são de água, os teus olhos

São a serpente abraçada ao veneno

Quando os teus olhos me matam

Por tu quereres ou por engano

Mas matam-me.

 

14/01/2024