A tua boca incendeia a
minha boca, na tua boca teus lábios a fimbria manhã do mar, a tua boca aprisionada
aos meus lábios, e o poeta começa a dessecar o teu cabelo,
Montanha do Adeus quando
Deus começa a fumar o último cigarro da madrugada.
Filho, ouve-me
Filho, vem a mim
E dar-te-ei as plumas da
noite.
A tua boca mendiga,
mendiga o beijo, mendiga que o diga, que nunca o dirá
A tua boca amarga quando
inventas a tempestade na esquina do pedestre homem de prata.
A tua boca incendeia, a
tua boca, na minha boca, quando transportas nos olhos a magreza do silêncio,
Pouco em mim se despede,
Pouco ou quase muito
pouco,
Se cansa de mim.
Da tua boca o nascer do
sol, na tua boca o acordar da Primavera com uma pitada de chocolate, na tua
boca o doce comboio da saudade, infame riso, quando a tua boca desenha sorrisos
na clandestina metáfora do poema,
Na tua boca, eu me deito,
eu me morro, de pensar na tua boca…
Na tua boca o calor desta
fogueira.
A tua boca, na minha boca
És tu, filho?
A tua boca que dispara
papelinhos cor-de-rosa, a tua boca quando percebo que a tua boca permanecerá
indivisível,
Como poderia eu dividir a
tua boca,
Em duas,
Em três,
Pedacinhos de alegria.
A tua boca sabe a uísque.
A tua boca na minha boca,
mendigo que sou, aprendiz de feiticeiro, astrólogo, e mercúrio sempre retrógrado,
em aquário
Uma estrela morreu.
A tua boca, minha
querida, silêncio de espuma, manjar artesanal dos finais de tarde junto ao mar,
Tua minha boca a tua boca
incendeia a minha boca
Amanhã terei a tua boca,
segundo previsões do FMI, amanhã…
Direi, dirão que a tua
boca é um inferno de amar,
Quando a noite te
pertence.
E quando amar é uma
noite.
E quando ser é não ser. Amanhã
dirão, que o Inverno é Verão, e a tua boca pertence-me e nunca mais direi que a
tua boca sabe a uísque…
Caí sobre ti.
A minha boca.
A tua boca na minha boca,
incêndio que se apodera dos meus braços, o meu corpo arde, trasveste-se de sombra
e de nojo,
E morre na tua boca.
Sabes, meu amor, na tua
boca há palavras proibidas, palavras guerreiras, palavras garridas e de muitas
cores,
E de muitos sabores.
Quero a tua boca, meu amor!
Quero o sabor da tua
boca!
Meu amor.
Na tua boca sei que
existem margaridas, papagaios em papel, mangas, sombra de mangueira, pedacinhos
de capim, deserto no chão
Existe também, na tua
boca,
A sibala,
Existe, também, meu amor
O relógio de pulso que me
expulsa quando acorda o dia,
Quase noite, este objecto
quase,
Quase tudo
Quase nada
Quase que quase
Absolutamente quase…
A tua boca.
Emagrece o dia, engorda a
noite, despede-se de mim, a tua boca, fico só, fico triste, fico Quase…
Um objecto quase.
A tua boca é arte. A tua
boca é poesia, mendicidade, promessas do dia e outras coisas vindas da cidade,
a tu boca arde
Incendeia.
Mata a minha boca.
A tua boca é isto
É aquilo
É terça-feira
Quase objecto
Quase quarta-feira…
na tua boca.
A tua boca despe-se,
veste-se e dispara na minha boca, senta-se, alisa o cabelo venturado, ergue-se
e beija a minha boca,
Amanhã, filho
Amanhã…
A tua boca me pertencerá.
A tua mingua boca, na
minha boca, quando todas as palavras do poema incendeiam, também elas sabem
incendiar, a tua boca,
Falange,
Menino traquina a brincar
com barcos,
E trapos,
E farrapos,
Com serpentes,
Na tua boca o medo
Da tua minha boca,
Sentimento que dorme em
mim, quando se levanta o horizonte e logo mais é noite
E depois,
Logo mais é dia.
Quando na tua boca é sábado
Quando na tua boca é
domingo
Quando na tua boca é
poesia.
Que diria
A tua boca
Da minha boca!
Sendo a tua boca um
esconderijo de mentiras.
01/01/2024