Brancura que o corvo alimenta
durante a noite, uma outra noite, seus filhos e seus netos, brancura maresia
quando já é manhã, quando um pássaro vem de longe e transporta no bico
O penúltimo luar.
Brancura teu corpo, tão
branco como a espuma do mar, brancura tatuada na tua língua, na tua mão junto
ao beijo.
Brancura o silêncio e a
despedida e a aurora que nunca mais vai acordar, brancura de ter, brancura de
amar. Brancura mingua madrugada, com cinturão encarnado e na mão uma espada,
uma sandália, brancura esse teu corpo, brancura tatuada nas páginas de um
livro.
Brancura desanimada,
triste, doente, talvez ausente, brancura fogo na boca do artista, brancura a
caneta nos dedos do poeta, que escreve na brancura do teu corpo, que desenha na
brancura do teu corpo…
O astrolábio do desejo.
Brancura quando este
relógio se cansa de me acompanhar, e na brancura nocturna do teu clitóris, oiço
a quinta sinfonia de Beethoven, tão linda
A brancura do ausentado
menino.
Brancura de amar,
brancura de desejar, o mar, o luar, a lua, o sol.
Brancura de ter uma mão disponível
para pedinchar,
Um bolso onde guardar as
amêndoas dos teus olhos, brancura de ser, pássaro fêmea revoltada na brancura
do teu corpo,
A brancura tatuada.
Brancura que o corvo alimenta,
Altamente tóxico, quando
há na brancura de amar
Um pedaço de aço,
Uma porção de chapa
canelada,
Brancura este corvo, que
alimenta a noite, que traz as cinco pedras da brancura…
Que pega nesta enxada
De brancura purpura
Levante até ao cume da
montanha,
Brancura esta que o teu
corpo apanha,
Que o corvo alimenta
Quando a noite tem fome.
01/01/2024
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