segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Brancura

 

Brancura que o corvo alimenta durante a noite, uma outra noite, seus filhos e seus netos, brancura maresia quando já é manhã, quando um pássaro vem de longe e transporta no bico

O penúltimo luar.

 

Brancura teu corpo, tão branco como a espuma do mar, brancura tatuada na tua língua, na tua mão junto ao beijo.

Brancura o silêncio e a despedida e a aurora que nunca mais vai acordar, brancura de ter, brancura de amar. Brancura mingua madrugada, com cinturão encarnado e na mão uma espada, uma sandália, brancura esse teu corpo, brancura tatuada nas páginas de um livro.

 

Brancura desanimada, triste, doente, talvez ausente, brancura fogo na boca do artista, brancura a caneta nos dedos do poeta, que escreve na brancura do teu corpo, que desenha na brancura do teu corpo…

O astrolábio do desejo.

 

Brancura quando este relógio se cansa de me acompanhar, e na brancura nocturna do teu clitóris, oiço a quinta sinfonia de Beethoven, tão linda

A brancura do ausentado menino.

Brancura de amar, brancura de desejar, o mar, o luar, a lua, o sol.

Brancura de ter uma mão disponível para pedinchar,

Um bolso onde guardar as amêndoas dos teus olhos, brancura de ser, pássaro fêmea revoltada na brancura do teu corpo,

A brancura tatuada.

 

Brancura que o corvo alimenta,

Altamente tóxico, quando há na brancura de amar

Um pedaço de aço,

Uma porção de chapa canelada,

Brancura este corvo, que alimenta a noite, que traz as cinco pedras da brancura…

 

Que pega nesta enxada

De brancura purpura

Levante até ao cume da montanha,

Brancura esta que o teu corpo apanha,

Que o corvo alimenta

Quando a noite tem fome.

 

 

01/01/2024

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