terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Um dia…

 

Um dia

Meu amor

Vou levar-te a ver o meu mar

Um dia

Meu amor

Um dia vou semear toda a minha poesia

No teu corpo de levante luar

Um dia

Meu amor

Um dia…

Vou levar-te a ver os socalcos

Fumas dos meus cigarros

E bebes os meus poemas

E esperamos

Que desça a noite sobre nós

E se canse o silêncio

No teu ombro

 

Um dia

Meu amor

A manhã não será mais chata

Indefesa e à mercê dos pássaros

Um dia

Meu amor

Será sempre Primavera no teu cabelo

E a lua

Pertencerá eternamente ao teu olhar

 

 

19/12/2023

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O teu poeta

 

Dá-me os teus braços

Dá-me a tua boca de Primavera

Ajuda-me a fugir aos laços

E quem me dera

Correr

Para o mar

E nunca ter

De te olhar

 

Dá-me os teus braços

Dá-me a tua mão

Descem da montanha os teus cansaços

Que me fazem doer o coração

 

Dá-me os teus braços

Dá-me o teu cabelo souto ao vento

Leva de mim os pedaços

Que atormentam o meu pensamento

E escrevo

E sou um poço de sofrer

Mas não sei se devo

Continuar a escrever

 

E ser o teu poeta

 

 

18/12/2023

Água salgada

 

Habituei-me a esta maré de engano

Às palavras disparadas por um louco

À vida de cigano

Que tudo tem e apenas tem o pouco

 

Habituei-me a esta vida de sofrimento

A esta vida recheada de ventos

Capaz de transportar o vento

E todos os meus pensamentos

 

Habituei-me aos teus olhos de mar

Enquanto a lua

Se esconde do luar

 

Habituei-me ao silêncio da madrugada

E de toda a coisa nua

Que brinca nesta água salgada

 

 

18/12/2023

domingo, 17 de dezembro de 2023

O que esperar

 

O que esperar

Quando nada acontece

Nem morre o mar

Nem a noite aparece

 

O que esperar

Quando esta lareira consome o meu coração

E o luar

Brinca na minha mão

 

O que esperar

Deste poema que invento

No teu olhar

 

Nos teus olhos de mar

O que esperar do vento

Quando o vento é um pedacinho de amar

 

 

17/12/2023

Suicídio

 

Suicido-me a cada poema que escrevo,

Morro, a cada manhã que acordo,

Sinto-me um pêndulo desgovernado,

Muito triste,

Muito cansado,

Suicido-me a cada sonho de ti,

A cada olhar,

A cada noite perdida.

 

Suicido-me em frente a esta lareira,

Suicido-me a cada desenho que faço,

A cada tarde junto à ribeira,

Suicido-me no teu abraço,

Nas tuas mãos.

 

Suicido-me nos teus cabelos,

E percebo que as estrelas são de papel,

Que as estrelas pertencem aos teus olhos

E aos teus lábios de mel.

 

Suicido-me nas palavras,

Suicido-me neste poema,

Nesta cama,

Com janela para o mar…

Suicido-me no teu luar.

 

Suicido-me a cada poema que escrevo,

Morro, a cada manhã que acordo,

Sinto-me um pêndulo desgovernado,

Muito triste,

Muito cansado,

 

Suicido-me neste corpo embriagado.

 

 

17/12/2023

sábado, 16 de dezembro de 2023

Circulo de insónia

 

Invento borboletas, nos teus olhos, invento beijos, nos teus lábios,

Invento o medo, na minha mão

Ou no meu peito,

Invento o sono e a tua noite,

Também invento,

 

Invento dentro deste livro

Palavras que digo

Desenhos que não faço

Luz…

Que não tenho

E preciso de inventar

E preciso de correr…

Para o mar.

 

Invento a manhã sabendo que nunca vou ter a manhã.

Invento as nuvens,

O silêncio,

A triste alvorada…

A feliz madrugada

De estar só,

Apenas só,

Dentro deste circulo de insónia,

Profundamente belo,

Profundamente débil.

 

Invento o espelho onde escondo o meu sorriso.

Invento a sinfonia que adormece ao final da tarde, junto à tua mão,

Que também invento,

E lamento,

Não poisar no meu coração.

 

Invento no meu olhar uma fina lâmina de mar,

Invento no teu olhar…

Um pedacinho de chuva,

Um pedacinho de nada,

Invento em mim, a noite desperdiçada,

Tristonha,

E cansada.

 

Invento neste cubículo a lama da sanzala,

Misera e só,

Só e ela

Que inventa,

Que se perde,

Quando inventa,

Quando bebe

Furiosamente,

Só.

 

 

16/12/2023

Pequeno ai

 

O que cai não o sei

Mas qualquer coisa cai

Não sei se são sonhos que sonhei

Ou uma pequena dor ou um pequeno ai

 

Qualquer coisa se desprende da lua

E não tem nome

É uma fatia de pão crua e nua

Nua como a fome

 

Qualquer coisa qualquer coisinha

Cai e não sei o que está a cair

Sobre a mesinha

 

O que cai não sei neste dia

Não sei se é um sorrir

Ou apenas uma lágrima do dia

 

16/12/2023