domingo, 17 de dezembro de 2023

O que esperar

 

O que esperar

Quando nada acontece

Nem morre o mar

Nem a noite aparece

 

O que esperar

Quando esta lareira consome o meu coração

E o luar

Brinca na minha mão

 

O que esperar

Deste poema que invento

No teu olhar

 

Nos teus olhos de mar

O que esperar do vento

Quando o vento é um pedacinho de amar

 

 

17/12/2023

Suicídio

 

Suicido-me a cada poema que escrevo,

Morro, a cada manhã que acordo,

Sinto-me um pêndulo desgovernado,

Muito triste,

Muito cansado,

Suicido-me a cada sonho de ti,

A cada olhar,

A cada noite perdida.

 

Suicido-me em frente a esta lareira,

Suicido-me a cada desenho que faço,

A cada tarde junto à ribeira,

Suicido-me no teu abraço,

Nas tuas mãos.

 

Suicido-me nos teus cabelos,

E percebo que as estrelas são de papel,

Que as estrelas pertencem aos teus olhos

E aos teus lábios de mel.

 

Suicido-me nas palavras,

Suicido-me neste poema,

Nesta cama,

Com janela para o mar…

Suicido-me no teu luar.

 

Suicido-me a cada poema que escrevo,

Morro, a cada manhã que acordo,

Sinto-me um pêndulo desgovernado,

Muito triste,

Muito cansado,

 

Suicido-me neste corpo embriagado.

 

 

17/12/2023

sábado, 16 de dezembro de 2023

Circulo de insónia

 

Invento borboletas, nos teus olhos, invento beijos, nos teus lábios,

Invento o medo, na minha mão

Ou no meu peito,

Invento o sono e a tua noite,

Também invento,

 

Invento dentro deste livro

Palavras que digo

Desenhos que não faço

Luz…

Que não tenho

E preciso de inventar

E preciso de correr…

Para o mar.

 

Invento a manhã sabendo que nunca vou ter a manhã.

Invento as nuvens,

O silêncio,

A triste alvorada…

A feliz madrugada

De estar só,

Apenas só,

Dentro deste circulo de insónia,

Profundamente belo,

Profundamente débil.

 

Invento o espelho onde escondo o meu sorriso.

Invento a sinfonia que adormece ao final da tarde, junto à tua mão,

Que também invento,

E lamento,

Não poisar no meu coração.

 

Invento no meu olhar uma fina lâmina de mar,

Invento no teu olhar…

Um pedacinho de chuva,

Um pedacinho de nada,

Invento em mim, a noite desperdiçada,

Tristonha,

E cansada.

 

Invento neste cubículo a lama da sanzala,

Misera e só,

Só e ela

Que inventa,

Que se perde,

Quando inventa,

Quando bebe

Furiosamente,

Só.

 

 

16/12/2023

Pequeno ai

 

O que cai não o sei

Mas qualquer coisa cai

Não sei se são sonhos que sonhei

Ou uma pequena dor ou um pequeno ai

 

Qualquer coisa se desprende da lua

E não tem nome

É uma fatia de pão crua e nua

Nua como a fome

 

Qualquer coisa qualquer coisinha

Cai e não sei o que está a cair

Sobre a mesinha

 

O que cai não sei neste dia

Não sei se é um sorrir

Ou apenas uma lágrima do dia

 

16/12/2023

Incêndio

 

Tudo arde dentro de mim como se o Universo se extinguisse agora

Dirão que estou louco

E louco não o estou

Estou sentado em frente à lareira

Fumo cigarros

Penso nas borboletas

O quão lindas são

E são tão belas

E são tão livres

 

E são tão azuis como o mar

E são tão cinzentas

Como a minha vida

De caminhar sobre o fogo

De morrer a cada noite de insónia

A cada poema escrito

Falado

Atirado ao mar

 

Tudo arde

Em mim

E no entanto

Nada faço para transformar o fogo em luz

E com a luz

Correr em direcção às estrelas

 

E abraçar a lua

Tudo arde dentro de mim

Tudo foge

De mim

Tudo dorme

E eu não durmo

Penso em gatos

Que não gosto de gatos

Que odeio gatos

E às vezes

São tão giros

E fiteiros

 

Como algumas pessoas

Como algumas plantas

Pedras

E nuvens em dispersão

Tudo arde

E eu

Esquecido de mim

Perdido neste labirinto de silêncios

De coisas poucas

Parvas

E belas

 

Tudo arde

Assim

Papel marginal que alguém esqueceu sobre a mesa

Letras em comunhão de bens

De beijos

Tudo arde nesta mísera vida de viver

Tudo arde

Tudo

Tudo parece morrer

 

 

16/12/2023

Saudade

 

Éramos dois silêncios anunciados.

Pedacinhos do teu sorriso

Ainda vivem nesta cidade.

Éramos dois corvos em voo,

Sobre o mar,

Que agora,

É apenas saudade…

 

16/12/2023

Se te perderes

 

Se te perderes

Encontra-me

Abraça-me

Se te perderes

Na floresta

Chama-me

Que eu vou

Que eu me ergo deste buraco

E escrevo

Na tua mão

Que o silêncio é uma enxada

E na montanha está a paz

 

Se te perderes

Diz-me

Baixinho

Muito baixinho

Para não acordares os pássaros da minha madrugada

Se te perderes

Chama-me

Que eu vou

Que eu vou…

À tua chamada

 

 

16/12/2023