sábado, 11 de novembro de 2023

Sono

 Escondo-me neste pedaço de sono

Neste pedaço de insónia

Escondo-me neste pedaço de noite

Neste pedaço de memória

Sem nome

 

Escondo-me neste pedaço do teu simples olhar…

Neste pedaço de medo

Daquele pedaço de te amar

Escondo-me sentindo a escuridão a roubar

A minha mão

 

Escondo-me nos teus lábios

Nos teus lábios com sabor a mel

Escondo-me neste pedaço de sono

Deste pequeno pedaço de miséria…

Onde escondo o meu corpo

 

 

11/11/2023

Olhos do mar

 

Estaciono o meu corpo

Nesta cadeira inventada

Nesta cadeira

Cansada.

Estaciono o meu corpo

Sabendo que a madrugada

Tem sorriso de feiticeira

 

Tem de olhar a sílaba abandonada

Em cada segunda-feira…

Estaciono o meu corpo

Nesta cadeira imóvel e desassossegada

Quando o dia morre

Quando o dia absorve o teu olhar

E a noite aparece à janela do meu silêncio

 

Estaciono o meu corpo

Nesta cadeira sem mar

Sem marés…

Quando o meu corpo de menino

Se despede do luar

Quando o meu corpo se despede

Dos olhos do mar

 

 

11/11/2023

Manhã desassossegada

 Há-de nascer um sorriso no teu olhar

Enquanto a água límpida da ribeira

Corre para o mar,

Enquanto o homem afogado,

Implora por ajuda,

Há-de nascer um sorriso no teu olhar

Enquanto o silêncio se esconde nos teus lábios…

Há-de nascer um sorriso no teu olhar

Enquanto uma laranja se despede da Primavera…

Nas mãos do luar.

 

 

11/11/2023

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Corpo

 Este fogo que incendeia o meu corpo,

Estas nuvens negras que poisam no meu corpo,

E tudo isto, quando oiço o silêncio dos teus olhos;

Este fogo que incendeia o meu corpo retalhado e em pedaços,

Esta lareira que me abraça,

Este fogo que alimenta…

Alimenta a minha alma.

 

Este fogo travestido de palavras,

Este fogo viciado em suspiros,

Em flores de papel…

Em pedras lançadas,

Contra mim.

 

Este fogo que incendeia o meu corpo,

Que dá vida ao meu corpo,

Este fogo miserável e sem pátria…

Que transporto desde menino,

Que alimenta a minha saudade,

De correr debaixo das mangueiras…

De ser feliz com pouco,

De tudo até à roupa.

 

Do cheiro da chuva,

Da terra queimada, da terra amada,

Este fogo que incendeia o meu corpo,

Do pouco que ainda me resta,

Porque aos poucos,

O meu corpo deixa de ser corpo…

E é vidro lapidado.

 

Este fogo que apelidaram de noite,

Com janelas para o mar,

Este fogo de barcos, este fogo no sorriso do capim,

Dos mabecos em busca de sexo…

Será noite, meu amor?

As pedras em silêncio,

O olhar da lua, triste e só.

Este corpo que se afasta de mim,

E constantemente grita pelo regresso da noite…

No meu corpo envenenado.

 

Este fogo que incendeia o meu corpo,

Estas nuvens negras que poisam no meu corpo,

E tudo isto, quando oiço o silêncio dos teus olhos;

E tudo isto quando acorda a manhã

E sinto que à minha volta brincam as acácias da minha infância.

 

Sinto pena, meu amor,

Sinto pena do meu corpo franzino,

Esquelético,

Magro, constantemente magro,

Como se fosse uma sanzala em busca de paz,

De pão,

E do meu corpo, disfarçado de janela,

No pão do meu relógio, quando afasto a morte,

E subo a montanha em direcção ao teu olhar.

 

Este fogo que incendeia o meu corpo,

Este fogo lançado pelas areias do Mussulo,

Este fogo malvado, este fogo alicerçado à maré…

Este fogo meu amor, este fogo que incendeia o meu corpo,

Este corpo perdido no cimo da montanha.

Este corpo do meu fogo,

Este corpo lançado às pedras,

Antes de ser apedrejado pelo tempo…

O meu corpo, meu amor,

Este fogo que se alimenta dele,

Este corpo mergulhado nas cinzes do teu olhar…

 

(como se fosse uma sanzala em busca de paz,

De pão,

E do meu corpo, disfarçado de janela)

 

O grito do meu corpo,

O fogo que dança na minha mão,

O fogo que incendeia o meu corpo,

Dentro de quatro paredes,

Ao sexo mutilado pela sombra da luz,

Dia após dia,

Esta cidade mata-me, devora-me como se eu fosse um bicho,

Um pedaço de negro e de noite.

O dia, o dia acaba de morrer, o dia parece mergulhar na algibeira do silêncio…

A abelha segreda-me que está para breve,

O regresso do fogo,

Que transporta o meu corpo,

Junto ao mar,

Perto dos teus cabelos,

Perto do céu,

No céu antes de acordar a madrugada…

E este fogo, e este fogo,

É a alegria do meu viver.

 

 

10/11/2023

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Encanto

 O que dizem os teus olhos,

Meu amor,

O que dizem os teus lábios,

Meu amor,

Quando desce a noite

E se esconde nas tuas mãos,

 

O que diz o teu cabelo,

Meu amor,

Quando o vento o balança…

Quando o vento o abraça…

O que dizem os teus olhos,

Meu amor… enquanto me encanto com eles.

 

 

09/11/2023

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Ensina-me

 Ensina-me a voar

Ensina-me a escrever

Ensina-me a sonhar

A sonhar e a amar

E a viver

 

Ensina-me a voar

Ensina-me a gostar do mar

Ensina-me a cor do teu olhar

Que ofusca qualquer luar

 

Ensina-me a voar

Ensina-me a ler

Ensina-me a cantar

E dançar

E a ser

 

Ensina-me a voar

Mar

Olhar

Amar

Luar

… e a viver.

 

 

 

08/11/2023

terça-feira, 7 de novembro de 2023

O caderninho

 Escrevo nele o teu desejo

Desenho nele o teu silêncio

Abraço-o como se te abraçasse…

Beijo-o como se te beijasse…

Depois…

Escondo-o na algibeira do teu casaco,

 

Um caderninho com o meu nome,

Palavras que vou semeando por aqui…

Por aí…

Um caderninho onde escrevo o teu desejo

E desenho o teu silêncio,

Quando cai a noite,

E todos os pássaros dormem.

 

Olho-o da mesma maneira que te olho,

Devagarinho,

Em pedacinhos de sombra com sabor a milímetros lineares…

Olho-o e toco-o como te olho

Como te toco,

Como te amo.

 

 

07/11/2023