de volta, talvez…
sim, confirmado, de volta...
(aos meus pais)
Às vezes,
Às vezes não tínhamos
nada,
Às vezes…
Às vezes tínhamos tudo…
Tudo que até sobrava,
Às vezes olhávamos o sol
Outras vezes nem por
isso…
Mas éramos tão felizes,
Às vezes,
Às vezes me lamentava
E quase que chorava
E não acreditava…
E claro…
Sonhava,
Às vezes não comia
Outras vezes…
Comia pequeninas sombras
de nada
E inventava…
Meu Deus… tanta coisa que
eu inventava,
Mas a vida é assim,
Claro que sim…
Uns morrem…
Outros,
Outros tal como eu…
Voam…
E não se cansam de voar,
Sonham…
E não se cansam de
sonhar,
Aos mortos,
Que hei-de eu dizer aos
mortos…
Às vezes,
Sentia medo do silêncio
da minha casa,
Tantas vezes,
Tantas vezes… meu Deus…
Tantas vezes que eu
chorava…
E fingia
A cada novo dia...
Que sim…
Que estava tudo bem,
E claro que não…
Como poderia estar tudo
bem…
Se o meu pai tinha
morrido,
E a minha mãe…
Coitada da minha mãe…
Lutava,
Rezava…
E acreditava…
Que de cancro não morria
também,
E as minhas tantas vezes,
Aos poucos…
Começaram a ser menos
vezes…
(porque o poeta nunca
morre,
Mesmo que tenha fome)
E aqui estou eu…
O poeta,
O artista plástico,
Talvez um pouco de louco,
Talvez um pouco de nada…
E claro…
Quase engenheiro…
Como o meu pai gostava.
Do vosso filho,
Francisco
15/06/2023