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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Das tantas vezes, as minhas vezes

 (aos meus pais)

 

 

Às vezes,

Às vezes não tínhamos nada,

Às vezes…

Às vezes tínhamos tudo…

Tudo que até sobrava,

Às vezes olhávamos o sol

Outras vezes nem por isso…

Mas éramos tão felizes,

 

Às vezes,

Às vezes me lamentava

E quase que chorava

E não acreditava…

E claro…

Sonhava,

 

Às vezes não comia

Outras vezes…

Comia pequeninas sombras de nada

E inventava…

Meu Deus… tanta coisa que eu inventava,

Mas a vida é assim,

Claro que sim…

Uns morrem…

Outros,

Outros tal como eu…

Voam…

E não se cansam de voar,

Sonham…

E não se cansam de sonhar,

 

 

Aos mortos,

Que hei-de eu dizer aos mortos…

 

Às vezes,

Sentia medo do silêncio da minha casa,

Tantas vezes,

Tantas vezes… meu Deus…

Tantas vezes que eu chorava…

E fingia

A cada novo dia...

Que sim…

Que estava tudo bem,

E claro que não…

Como poderia estar tudo bem…

Se o meu pai tinha morrido,

E a minha mãe…

Coitada da minha mãe…

Lutava,

Rezava…

E acreditava…

Que de cancro não morria também,

 

E as minhas tantas vezes,

Aos poucos…

Começaram a ser menos vezes…

(porque o poeta nunca morre,

Mesmo que tenha fome)

E aqui estou eu…

O poeta,

O artista plástico,

Talvez um pouco de louco,

Talvez um pouco de nada…

E claro…

Quase engenheiro…

Como o meu pai gostava.

 

 

 

Do vosso filho,

Francisco

15/06/2023