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domingo, 15 de outubro de 2023

O senhor estrangeiro

 Sinto-me um estrangeiro

Nesta cidade estrangeira

Sinto-me um estranho

Dentro desta cidade estranha

Nesta cidade sem ribeira

Desta cidade de montanha

 

Sinto-me só

Nesta cidade estrageira

Desta cidade sem nome

À beira

Da fome

Sinto-me um estrangeiro

Nesta cidade amuada

Com tudo encerrado

Desde a madrugada

 

Sinto-me um estrageiro

Nesta cidade amaldiçoada

Com tudo encerrado

Desde a madrugada

Sinto-me um estrageiro apupado

Pelo povo e pelo vento

Pelos relógios

Sou um estrageiro

Dentro desta cidade

Estrageira

À beira

De um ataque de nervos

 

Sinto-me só

Só um estrageiro

Sem nome

Sem dono

Um estrageiro redondo

Circular e uniforme

Que marcha

Que come

As palavras

E todos os estrageiros

Desta cidade estrageira

 

(Sinto-me um estrangeiro

Nesta cidade estrangeira

Sinto-me um estranho

Dentro desta cidade estranha

Nesta cidade sem ribeira

Desta cidade de montanha)

 

À beira

Da loucura

 

Sinto-me um estrangeiro

Dentro desta cidade de fantasmas

De marés envenenadas

Um estrageiro diplomado

Com asas

Com cornos

E cabelo encaracolado

Junto ao mar

O poeta enforcado

 

Sinto-me um estrangeiro

Dentro desta cidade estrangeira

Com tudo encerrado

Desde a madrugada

À beira-rio

O estrageiro enforcado

Poeta e vadio.

 

 

15/10/2023