Sinto-me um estrangeiro
Nesta cidade estrangeira
Sinto-me um estranho
Dentro desta cidade
estranha
Nesta cidade sem ribeira
Desta cidade de montanha
Sinto-me só
Nesta cidade estrageira
Desta cidade sem nome
À beira
Da fome
Sinto-me um estrangeiro
Nesta cidade amuada
Com tudo encerrado
Desde a madrugada
Sinto-me um estrageiro
Nesta cidade amaldiçoada
Com tudo encerrado
Desde a madrugada
Sinto-me um estrageiro apupado
Pelo povo e pelo vento
Pelos relógios
Sou um estrageiro
Dentro desta cidade
Estrageira
À beira
De um ataque de nervos
Sinto-me só
Só um estrageiro
Sem nome
Sem dono
Um estrageiro redondo
Circular e uniforme
Que marcha
Que come
As palavras
E todos os estrageiros
Desta cidade estrageira
(Sinto-me um estrangeiro
Nesta cidade estrangeira
Sinto-me um estranho
Dentro desta cidade
estranha
Nesta cidade sem ribeira
Desta cidade de montanha)
À beira
Da loucura
Sinto-me um estrangeiro
Dentro desta cidade de
fantasmas
De marés envenenadas
Um estrageiro diplomado
Com asas
Com cornos
E cabelo encaracolado
Junto ao mar
O poeta enforcado
Sinto-me um estrangeiro
Dentro desta cidade estrangeira
Com tudo encerrado
Desde a madrugada
À beira-rio
O estrageiro enforcado
Poeta e vadio.
15/10/2023
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