(ao meu pai, Fernando Martins Fontinha, e a todos os seus camaradas; bombeiros)
Pai?
Sim, filho…
O que é ser bombeiro?
Ser bombeiro, meu filho…
Ser bombeiro, às vezes, é
chorar em silêncio,
É estender a mão a uma
pequena flor,
Quando esta, devido ao
vento,
Se contorce em pequenos
nadas,
Ser bombeiro, às vezes, é
ser insultado,
Que não faz nada,
Que é um chulo…
Que passa o dia sentado,
E depois,
Bom meu filho…
Depois, um pai, uma mãe…
Alguém…
Chega a casa,
Vê o seu filho,
A sua filha,
Em dor,
Meu Deus…
A sua pequena flor,
Nos braços,
Ou no pavimento deitado,
A morrer…
Ou a sua casa a arder…
E a quem telefona este
pai…
A quem telefona esta mãe…
Ao chulo, ao gajo que não
faz nada e passa o dia sentado…
O bombeiro,
Ser bombeiro…
Ser bombeiro é ter uma
amante,
Uma outra família,
Com muitos filhos e
filhas…
Que às vezes,
Muitas vezes,
Esta é a sua principal
família,
Ser bombeiro…
Ser bombeiro é sair
muitas vezes de casa a correr,
Apressado,
Sem que ninguém lhe
pergunte se já comeu,
Ou…
Ou se a sua família tem
comida,
Mas o bombeiro,
Não hesita,
Não hesita para salvar,
Porque mesmo de barriga
vazia,
Ele é forte,
Ele aguenta,
Aguenta as horas…
Aguenta os dias,
Aquenta as noites…
Porque é bombeiro,
Pai?
Sim, meu filho…
Algum dia sentiste medo?
Não meu filho…
Nem quando eu me despedi
de ti?
Nem quando tu te
despediste de mim…
És tão mentiroso, pai,
tão mentiroso…
Como podes dizer isso,
Se todos temos medo,
Quando nos despedidos
daqueles que amamos…
Alijó, 01/05/2023
Francisco Luís Fontinha