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segunda-feira, 1 de maio de 2023

Ser bombeiro

 (ao meu pai, Fernando Martins Fontinha, e a todos os seus camaradas; bombeiros)

 

 

Pai?

Sim, filho…

O que é ser bombeiro?

 

Ser bombeiro, meu filho…

Ser bombeiro, às vezes, é chorar em silêncio,

É estender a mão a uma pequena flor,

Quando esta, devido ao vento,

Se contorce em pequenos nadas,

 

Ser bombeiro, às vezes, é ser insultado,

Que não faz nada,

Que é um chulo…

Que passa o dia sentado,

E depois,

Bom meu filho…

Depois, um pai, uma mãe…

Alguém…

Chega a casa,

Vê o seu filho,

A sua filha,

Em dor,

Meu Deus…

A sua pequena flor,

Nos braços,

Ou no pavimento deitado,

A morrer…

Ou a sua casa a arder…

E a quem telefona este pai…

A quem telefona esta mãe…

Ao chulo, ao gajo que não faz nada e passa o dia sentado…

O bombeiro,

 

Ser bombeiro…

Ser bombeiro é ter uma amante,

Uma outra família,

Com muitos filhos e filhas…

Que às vezes,

Muitas vezes,

Esta é a sua principal família,

 

Ser bombeiro…

Ser bombeiro é sair muitas vezes de casa a correr,

Apressado,

Sem que ninguém lhe pergunte se já comeu,

Ou…

Ou se a sua família tem comida,

Mas o bombeiro,

Não hesita,

Não hesita para salvar,

Porque mesmo de barriga vazia,

Ele é forte,

Ele aguenta,

Aguenta as horas…

Aguenta os dias,

Aquenta as noites…

Porque é bombeiro,

 

Pai?

Sim, meu filho…

Algum dia sentiste medo?

Não meu filho…

Nem quando eu me despedi de ti?

Nem quando tu te despediste de mim…

És tão mentiroso, pai, tão mentiroso…

Como podes dizer isso,

Se todos temos medo,

Quando nos despedidos daqueles que amamos…

 

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha