quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Sonhar-te

 

A luz milimetricamente semeada numa folha quadriculada, a caneta em desespero

escreve as primeiras flores da madrugada.

O luar se evapora lentamente

como um corpo

dissolvido no ácido da noite.

 

Um peixe desespera dentro do aquário da vida,

não respira,

tão pouco pensa,

e mesmo assim,

acredita que um dia poderá voar:

como também eu gostaria de acreditar

 

e de sonhar,

e de caminhar sobre o lençol silêncio do mar!

Mas como posso eu acreditar,

se os meus sonhos são fantasias em papel,

e se a maré é apenas o engano

que me engana ao acordar.

 

Eras o meu sonho, eras.

Poesia que corria no rio depois das tempestades,

e sei que apenas não pertenço…

aos teus sonhos. E sei que apenas me cansei de te sonhar

desejando-te tanto tanto como desejo voar,

e pergunto à luz milimetricamente semeada numa folha

 

quadriculada;

porque me cansei de te sonhar se eu te desejo tanto sonhar?

E mesmo que os meus sonhos sejam mera fantasia,

eu te quero sonhar

de noite e de dia.

 

E sei que esta luz me vai guiar até que o meu sonhar

não seja mera fantasia, mas sim

te sonhar,

nos teus braços, poisando a cabeça no silêncio

e procurar os teus lábios e dar-me conta que não estou a sonhar. E dar-me conta que te estou a amar.

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