O fogo, da lágrima que incendeia a mão
Que espeta a carne na espada que lavra o chão, urge esquecer a neblina dos dias tristes, as pedras que atrapalham o pulsar dos relógios, há horas mortas, horas que se suicidam no pulso de uma sombra ou apenas nos lábios de uma mulher laminada pelas asas de uma madrugada.
A lágrima, em si, dizia-se maneável pela solidão nocturna de um punhado de luar.
Em papel as estrelas lacrimejantes de um túnel sem saída, debaixo do mar, sob as rédeas sonoras de uma voz; acorda o suspiro.
Levanta-se energicamente
O corpo já morto, e outro corpo sobrante
Também em lágrimas de fogo, em pequenas pinceladas de tédio que um peixe lança contra a maresia de uma pedra, também se ergue
Do mais indefinido infinito que decora as palavras de uma flor ausente,
Sempre triste, sempre doente.
Muitas vezes são as sombras as únicas companheiras de viagem, muitas vezes, o corpo já morto, recusa-se a esconder-se no sifilítico desejo e se houver masturbação, apenas e só
As árvores o fazem na clareira de uma janela.
Sobra o vento e levo eu também o vento
Na algibeira.
Podia ser pior para a espada que lavra o chão, quando cada socalco é uma esperança vã de um outro amanhã
Quando o fumo da lareira invade a cadeira onde me sento, onde vou morrendo salpicado pela nudez do Outono
E sabemos que estamos mortos quando um homem vestido de negro se aproxima de nós, e nos rouba a alma.
Quanto ao fogo ainda vive. Ainda respira na folha do papel onde semeio as palavras de um Douro rio descendo cada medo de uma criança.
Cada cabelo se mente, não por prazer
Talvez o faça por demência, talvez o faça por obediência ao sargaço destino
De morrer sozinho.
Sozinho. Sozinho um menino que às vezes é vaiado, que às vezes é apenas o sonífero de uma estrela, e um simples olhar, quando o fogo é uma bala disparada pela mão de um inocente, que se veste de preto, que tem nos sapatos uma pequena argola para mais tarde
Prender a noite.
E este fogo nunca morre, como poderia morrer uma lágrima que incendeia a mão
Que espeta a carne na espada que lavra o chão, que devasta o rio como se fosse saliva,
Como se fosse um punhado de pássaros envenenados pelas raízes da floresta.
Sentado também se senta o fogo sobre a aldeia, e o tique taque da mão
Que procura o outro pedaço de mão,
Sem o saber, desbota as cores das asas de uma borboleta,
E se o gato também está presente, é porque o corpo já morto,
Ainda o sente.
O cheiro esplendido de um barco doente, também ele carcomido pelo fogo azul de uma outra lágrima,
Também na ausência de um destino sem nome, de uma palavra se destino
Ou da mão
De um outro menino. O fogo é o cansaço que só a noite inventa e a história de uma criança, descendo a montanha
Descendo a montanha sabendo que a lágrima que incendeia a mão,
Também ela está morta
Como morta está a espada que espeta a carne na espada que lavra o chão…
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