sexta-feira, novembro 08, 2024

Talvez amanhã

Herberto queixava-se do preço do gás, se vendessem gás a retalho

Ele assim podia suicidar-se,

Porque não tinha dinheiro para a bilha do gás.

E até os miseráveis, se se quiserem suicidar

Poucas alternativas têm,

E todas elas

Já são um pouco carotas.

Quanto ao milionário…

Pode comprar uns gramas de coca, de heroína

Pode até ir ao espaço

E lá,

Abrir a escotilha. Já quanto ao miserável

Nem queiram saber.

Gosto, gosto muito do Herberto

Mas é tão complexo de ler, de entender

Que

Até tenho medo,

De ler.

Mas leio.

Mas também não sei porque leio. O que me fascina, nos livros?

Talvez o infinito de nunca saber quando é noite.

Ou talvez, um poema de Reinaldo Arenas, poeta cubano.

E acreditem

Que não precisávamos de janelas

Para esconder a noite.

Ela vive, escondida.

Ninguém sabe porque são três horas da tarde, alguém, certamente, assim o quis,

E não tenham dúvidas,

São mesmo três horas da tarde.

E nunca é tarde,

Quando percebemos que o universo não tem fim, mas como é possível alguma coisa não ter fim?

Se tudo tem fim.

Se o homem tem fim.

Se até Carvalhais teve fim.

Tudo, tudo morre,

Nunca é tarde saber que depois de uma tempestade, vem a saudade

O abraço,

O reencontro. E tal como o Herberto se queixava do preço do gás,

Também eu, me queixo

Do preço do gás,


E se ao menos vendessem gás a retalho,


Nunca era tarde,

Para ser dia,

Para ser noite


Dentro de uma bilha de gás. Coitado do Herberto! Coitado.


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