Herberto queixava-se do preço do gás, se vendessem gás a retalho
Ele assim podia suicidar-se,
Porque não tinha dinheiro para a bilha do gás.
E até os miseráveis, se se quiserem suicidar
Poucas alternativas têm,
E todas elas
Já são um pouco carotas.
Quanto ao milionário…
Pode comprar uns gramas de coca, de heroína
Pode até ir ao espaço
E lá,
Abrir a escotilha. Já quanto ao miserável
Nem queiram saber.
Gosto, gosto muito do Herberto
Mas é tão complexo de ler, de entender
Que
Até tenho medo,
De ler.
Mas leio.
Mas também não sei porque leio. O que me fascina, nos livros?
Talvez o infinito de nunca saber quando é noite.
Ou talvez, um poema de Reinaldo Arenas, poeta cubano.
E acreditem
Que não precisávamos de janelas
Para esconder a noite.
Ela vive, escondida.
Ninguém sabe porque são três horas da tarde, alguém, certamente, assim o quis,
E não tenham dúvidas,
São mesmo três horas da tarde.
E nunca é tarde,
Quando percebemos que o universo não tem fim, mas como é possível alguma coisa não ter fim?
Se tudo tem fim.
Se o homem tem fim.
Se até Carvalhais teve fim.
Tudo, tudo morre,
Nunca é tarde saber que depois de uma tempestade, vem a saudade
O abraço,
O reencontro. E tal como o Herberto se queixava do preço do gás,
Também eu, me queixo
Do preço do gás,
E se ao menos vendessem gás a retalho,
Nunca era tarde,
Para ser dia,
Para ser noite
Dentro de uma bilha de gás. Coitado do Herberto! Coitado.
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