quinta-feira, novembro 07, 2024

Nunca é tarde

Era capaz de viver na rua. Fascina-me… voar sobre a calçada, fascina-me

Nada me fascinar,

A não ser,

Dormir na calçada

Ou no automóvel, seria um escândalo, sim senhor

E depois? Ficava mais ou nemos, belo?

Diminuiria de altura?

De peso? E tudo

Apenas porque dormia na calçada,

Como uma flor acabada de nascer.

É mais sincero o sorriso de uma criança

Do que a maior parte da sinceridade

Que deambula pelo silêncio.

É mais fácil o mais fácil

Do que o caminhar e subir a montanha,

E no entanto

Há sempre uma Primavera a cada ano…

Quer queiramos,

Quer não.

Há sempre uma esquina que nos empara, há sempre uma palavra vestida de bala,

E da prata todos os solstícios da madrugada.

É mais fácil mentir,

Do que escrever na parede da sala

Vinte vezes,

Menti.

Magoei.

É mais fácil morrer

Do que escrever o tratado lógico-filosófico do senhor Wittgenstein,

E quando passo pelo canino que me molestou, olha-me

E sorri, como se ainda tivesse razão.

Não é tarde, e nunca seremos nós os pertences da noite, e nunca seremos nós

As almas penadas,

Para Gogool,

Mortas. Tanto faz. 

Nunca será tarde para dormir

Se a noite for apenas uma lâmina em papel,

Com uma janela,

E nas águas-furtadas,

Lá,

Está a paixão e o desejo.

Fazer amor nas águas furtadas; de tão simples

E de tão belo, sobre uma cidade que fervilhava a tarde,

Ou uma pomba que poisava na janela, que apenas Kundera descrevia com uma complexidade fascinante…


Ouvíamos crianças que brincavam no final da rua,

E era tudo tão simples, e de tão real

Que hoje,

É surreal,

Mete-me medo.

E mesmo assim era capaz de viver na rua,

Quem sabe?

Nunca é tarde numa cama inventada por um louco, nunca é tarde para nascer o mais belo poema das mais belas

Árvores poéticas,

Na tua mão. 

Frágil.

Nunca é tarde, e já é tão tarde para viver,

Sejamos sinceros!

Para que serve a poesia?

Nunca é tarde para que eu deixe de ser eu!


Nunca é tarde

Para procurar uma janela.


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