Era capaz de viver na rua. Fascina-me… voar sobre a calçada, fascina-me
Nada me fascinar,
A não ser,
Dormir na calçada
Ou no automóvel, seria um escândalo, sim senhor
E depois? Ficava mais ou nemos, belo?
Diminuiria de altura?
De peso? E tudo
Apenas porque dormia na calçada,
Como uma flor acabada de nascer.
É mais sincero o sorriso de uma criança
Do que a maior parte da sinceridade
Que deambula pelo silêncio.
É mais fácil o mais fácil
Do que o caminhar e subir a montanha,
E no entanto
Há sempre uma Primavera a cada ano…
Quer queiramos,
Quer não.
Há sempre uma esquina que nos empara, há sempre uma palavra vestida de bala,
E da prata todos os solstícios da madrugada.
É mais fácil mentir,
Do que escrever na parede da sala
Vinte vezes,
Menti.
Magoei.
É mais fácil morrer
Do que escrever o tratado lógico-filosófico do senhor Wittgenstein,
E quando passo pelo canino que me molestou, olha-me
E sorri, como se ainda tivesse razão.
Não é tarde, e nunca seremos nós os pertences da noite, e nunca seremos nós
As almas penadas,
Para Gogool,
Mortas. Tanto faz.
Nunca será tarde para dormir
Se a noite for apenas uma lâmina em papel,
Com uma janela,
E nas águas-furtadas,
Lá,
Está a paixão e o desejo.
Fazer amor nas águas furtadas; de tão simples
E de tão belo, sobre uma cidade que fervilhava a tarde,
Ou uma pomba que poisava na janela, que apenas Kundera descrevia com uma complexidade fascinante…
Ouvíamos crianças que brincavam no final da rua,
E era tudo tão simples, e de tão real
Que hoje,
É surreal,
Mete-me medo.
E mesmo assim era capaz de viver na rua,
Quem sabe?
Nunca é tarde numa cama inventada por um louco, nunca é tarde para nascer o mais belo poema das mais belas
Árvores poéticas,
Na tua mão.
Frágil.
Nunca é tarde, e já é tão tarde para viver,
Sejamos sinceros!
Para que serve a poesia?
Nunca é tarde para que eu deixe de ser eu!
Nunca é tarde
Para procurar uma janela.
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