Tínhamos nas mãos dois
doces pedacinhos de poesia
migalharias suaves ao
mestre dos livros emagrecidos
vadios pássaros teus
olhos planetários
tínhamos nas veias
o incenso clandestino de
uma abelha
em mel banho-Maria,
Tínhamos o sonho
e a saudade
tínhamos rolamento com
esferas de aço
quando brincávamos nos
finais de tarde,
Tínhamos o amor sensível
à luz das palavras silvestres
como faziam as flores
sobre a cama relvada do
silêncio jardim
tínhamos as vertigens dos
mamilos desgovernados
debaixo da água do rio
ao longe brincávamos
e eu disfarçava-me de
socalco
e tu
de xisto poema
tínhamos uma ardósia onde
escrevíamos
os segredos minguados dos
teus lábios siderais
e eu,
Tínhamos corpos de
cigarros deitados nas nossas mãos de linho
estava vento
éramos a noite que um
isqueiro de prata incendiava
nas planícies ágeis dos
anéis de aço
e inventávamos o desejo
como quem escreve na
areia antes de regressar o mar
tínhamos corpos de sémen
nas algibeiras da sentinela morte
que o teu suicídio lavou
em águas profundas,
Tínhamos o sorriso de um
louco
que transversalmente
dormia nas iscas de fígado
e na sopa de feijão
da cerveja
havia vodka que
silenciava as amêndoas de luz
e tínhamos no peito
árvores cansadas de
respirar
que o sabor da insónia
nos roubou...
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