Atravessávamos o lótus
húmido da manhã
como eram as escadas que
deslizavam ruela acima
sentávamo-nos sobre uma
sombra gargantilha
e dos pinheiros mansos de
Carvalhais
ouvíamos as eiras
graníticas correrem em direcção à ribeira dos aflitos,
Éramos novos e crianças
mal sabíamos ler e
escrever
e falávamos entre sons
desconexos como pedras a invadirem a montra de uma ourivesaria
tínhamos livros
e apenas víamos as
imagens deslizantes como serpentes sem cabeça,
Gostava de ti ainda
como às paisagens de
África circunflexas no interior do osciloscópio
e mágicos invadiam as
janelas com cinco vidros pintados de encarnado anoitecer
vinha a noite
e via-te encostada a uma
jangada invisível na esperança de voares,
Nunca o fizeste como
comigo depois de eu ter caído no poço da angústia
tínhamos na boca o sabor
a ervas ou a bolhas castanhas com asas verdes
deslizavam sobre uma
lâmina de alumínio como correm todas as bolhas
quando chovem diamante e
lábios de areia
entre canoas e pedaços de
osso argamassado contra os eléctricos da Baixa,
O rio da saudade
ornamentava-se e entrava em nós como silêncios gemidos
sobre uma cama de pensão
com paredes rendadas e crucifixos suspensos sobre a cabeceira
olhávamo-nos no espelho
e os nossos corpos nus
misturavam-se com o reflexo do velho crucifixo
… e assim deixávamos em
suspenso o amor canino com dentes de marfim...
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