Roubaste-me a noite e os
espelhos do meu quarto nocturno
transformas-te as luzes
em pontos negros de solidão
suspensos em árvores de
Primavera
e sempre que uma janela
se abre
um cinzento silêncio
entranha-se em ti,
Nunca percebi quem eras
e de que material eras
constituída
nunca percebi se eras de
pedra
ou de água sangrenta
dos rios doentes quando
morre o luar,
Havia um cigarro suspenso
no teu olhar
quando o comboio para
Belém se desprendia do Cais do Sodré
e navegava entre
esplanadas e pasteis
e putas
e chavalos endiabrados
como cavalos de batalha,
Entravas na água salgada
pelos ventos em rochedos de insónia
e um imaginário corredor
de prata
sombreava-te as nádegas e
as coxas e os seios
que a areia desenhava
e o mar engolia como
morcegos dentro da gruta húmida da tempestade,
Havia sempre noite
e sabia-te ensanguentada
nas mortalhas dos orgasmos infindáveis
que os poemas de AL Berto
provocavam em nós
olhávamos o rio e os
barcos e a outra cidade
quando se encolhia na
neblina dos fins de tarde,
E os cigarros morriam nas
flores dos jardins em plantio
às palavras pedíamos
perdão
e sílabas de sabor
adocicado como as mulheres que dançavam sobre as mesas da noite
desciam em cordas de suor
até encontrarmos os
beijos prometidos...
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