terça-feira, 15 de outubro de 2024

Negros pontos de Solidão

 

Roubaste-me a noite e os espelhos do meu quarto nocturno

transformas-te as luzes em pontos negros de solidão

suspensos em árvores de Primavera

e sempre que uma janela se abre

um cinzento silêncio entranha-se em ti,

 

Nunca percebi quem eras

e de que material eras constituída

nunca percebi se eras de pedra

ou de água sangrenta

dos rios doentes quando morre o luar,

 

Havia um cigarro suspenso no teu olhar

quando o comboio para Belém se desprendia do Cais do Sodré

e navegava entre esplanadas e pasteis

e putas

e chavalos endiabrados como cavalos de batalha,

 

Entravas na água salgada pelos ventos em rochedos de insónia

e um imaginário corredor de prata

sombreava-te as nádegas e as coxas e os seios

que a areia desenhava

e o mar engolia como morcegos dentro da gruta húmida da tempestade,

 

Havia sempre noite

e sabia-te ensanguentada nas mortalhas dos orgasmos infindáveis

que os poemas de AL Berto provocavam em nós

olhávamos o rio e os barcos e a outra cidade

quando se encolhia na neblina dos fins de tarde,

 

E os cigarros morriam nas flores dos jardins em plantio

às palavras pedíamos perdão

e sílabas de sabor adocicado como as mulheres que dançavam sobre as mesas da noite

desciam em cordas de suor

até encontrarmos os beijos prometidos...

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