sábado, outubro 12, 2024

na saliva de quem lê o poema

 

as palavras prostitutas

na saliva de quem lê o poema

sorrisos pintados na parede de ardósia

do inferno

ao dia acordar

ao dia de partir

 

o barco de papel

regressa do outro lado da rua

onde te sentas a contar as nuvens

e infinitos orgasmos de silêncio

à porta

o barco de papel

engasgado nos teus seios

(imploram-me que me renda e desista de viver)

desfazem-se em migalhas de suor

 

nas palavras de quem lê o poema

(e eu não me rendo nem vou desistir de viver)

a biblioteca encharcada de gemidos cirílicos

e lágrimas de amêndoa

ao entardecer

pareces cansada

 

e as palavras prostitutas

nunca se cansam

na boca de quem as lê

 

(repito que não me rendo nem desisto de viver)

na saliva de quem lê o poema

na esquina da saudade

à procura de rios invisíveis

entre os candeeiros de prazer

 

nas paredes cansadas

das tuas mãos

a fotografia do destino

 

nada a fazer.

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