Achas-te superior
indigente
com falta de amor
como muita gente,
achas-te superior
rainha das coisas boas
montanha de luz
achas-te uma flor
uma simples flor
com pernas de cansaço
e braços
aos abraços
oiço o balançar da porta
de entrada
truz truz truz
ninguém será certamente
para me dar nada
nem uma simples corda de
aço,
um prato com sopa de
legumes encarnados
vinho do porto velho como
os pássaros com asas de mar
(achas-te superior
indigente
com falta de amor
como muita gente)
e às vezes
multiplicam-se as manhãs
de inverno
cresce o inferno
maré de marinheiro
quando eu sentado no
barbeiro
penso solitariamente nas
nuvens de barbear,
sinto-te em espuma no meu
rosto envelhecido
e das saudades
as pequenas saudades
correr amar correr
livremente
e voar
e amar
voar até cair nos teus
braços
abraços
uma corda de aço
do tão construído cansaço
a espuma de ti mergulhada
no meu simples desenho da alvorada
e tão triste e tão só
tudo aquilo que foi esquecido,
achas-te superior
indigente
com falta de amor
como muita gente,
mas continuarás a ser uma
resma de palavras
sem nexo
moribundas quando a
mergulhada canção de amor
não é uma flor
é uma canção
que sofre
que dói
e mói
as pedras finas da
calçada dos amores proibidos
e dói
mói
a doçura tristeza do
desejo.
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