sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Mãe de areia

 

Inventavas canções que me adormeciam

desenhavas sombras sobre a minha alcofa com pedaços de papel colorido

olhava-os pensando serem estrelas

ainda hoje confundo-os com as estrelas do céu

e fico sem saber se elas são papeis

ou se os papeis são cores pintadas por ti nas paredes da noite,

 

Colocavas-me um pequeno rádio a pilhas

em som quase nulo

e dizes-me agora que cintilavam os meus olhos

ficava submerso nos lençóis como um barco de esponja

na banheira de plástico onde me banhavas...

e dos meus ainda não dentes coloridos sorrisos vinham,

 

Regressavas a mim com o cacimbo em ti

e trazias contigo o cheiro do capim molhado

húmida a terra

sangravam as rochas as lágrimas tuas quando eu deambulava sobre os telhados de areia...

depois... adormecias em pé enrolada no cansaço

e um dia deixaste-me cair e eu percebi que me amavas...

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