terça-feira, outubro 08, 2024

gritos de revolta

 

sinto-o correr nos poços escuros do meu corpo

quando escarpas e ventos se alicerçam nas minhas tristes mãos de areia

sinto-o como se ele fosse uma lâmpada de cristal vomitando palavras

tracejados traços no sorriso de uma abelha

e sinto-o e sinto-a

em mim depois de adormecer a solidão

sinto-o correr nos poços escuros... do corpo

e há uma corda invisível em cada esquina do sofrimento

que as cidades descobrem depois de acordar a manhã

e as ruas absorvem as lágrimas tuas

que correm nos poços...

escuros nus dormentes ausentes das sílabas de prata

 

vazios como o silêncio desgovernado

dos teus íngremes cabelos com sabor a naftalina

e de uma gaveta fechada

uma sombra disfarçada de imagem

emerge no espelho da dor

estás triste

como se o teu barco naufragasse no profundo Oceano mar...

e no entanto

sem o perceberes

uma jangada voa nos teus olhos magoados

como uma gaivota de oiro envenenada pela insónia de uma velha estória...

e sinto-o e sinto-a, dentro de mim em gritos de revolta

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