terça-feira, outubro 08, 2024

Charco de Pedra

 

Eterno silêncio do charco de pedra

com as palavras que mergulham em lábios de silício

na mão do homem com o chapéu preto

obliquamente sobre o rio da morte

às frias folhas de papel mata-borrão,

 

Desenho-te na límpida fragrância do café com natas

enquanto um transeunte espera impacientemente pelas torradas

e as folhas de papel com poemas adormecidos

tristes

no cansaço da janela do beijo,

 

Subo pelo teu corpo acima

e sento-me em ti adornada montanha de pele em suor

deito-me sobre as tuas mãos como se eu fosse um cadáver sem nome

porque deixaste de prenunciar o verbo meu sofrimento

que ao rio de sangue embarca até desaparecer no umbigo da noite,

 

Sabes que sou eu?

o filho indesejado das palavras começadas por F

e terminadas em OR

eu aquele insignificante miúdo com calções de areia e sandálias de chocolate

das sanzalas envergonhadas como os cavalos brancos das invisíveis madrugadas,

 

Eterno silêncio do charco de pedra

eterno teu corpo de xisto embrulhado nos socalcos da dor

miudinha ela a chuva de alegria

dos teus singelos seios de neblina

ao cair a tarde no Douro Rio... no Douro AMOR.

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