Inventaste o medo para me
afugentares
dos braços silêncio em
espuma submersa nas manchas do prazer,
acreditava nas gaivotas
com coração de prata
e lábios desconexos
percorrendo searas adormecidas
e voando mais alto,
perdiam-se, como os grãos de areia de fina estampa
nos corpos de madeira
depois de derrubadas,
depois de assassinadas,
todas as árvores e arvoredos
que a insónia imprime nos
teus seios de pedra-pomes,
havíamos um dia de cruzarmo-nos
numa rua sem saída
que o tempo deixou
esquecida na cidade dos fantasmas vaidosos,
não acreditei,
não percebi que das
sombras cinzas dos cigarros perdidos
pudesse sair o teu corpo
húmido como uma manhã quando a neblina,
espessa, árida, cobre o
rio com todas as gotinhas do suor tua pele,
quando a tua neblina
penetra incessantemente as flores de um jardim enforcado,
um jardim sombreado,
lapidado a lápis de cor,
eu ouvia
e,
eu ouvia e sentia nos
teus doces lábios o cansaço dos dias
e das noites como um
náufrago
há procura das rochas
vermelhas,
roubava ao luar a
sanidade mental de estar vivo,
e acreditar que amanhã,
depois de acordares,
deixavas de inventar o
medo, e me abraçavas como as sílabas deitadas na página de um caderno...
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