segunda-feira, 14 de outubro de 2024

As sombras cinzas dos cigarros perdidos

 

Inventaste o medo para me afugentares

dos braços silêncio em espuma submersa nas manchas do prazer,

acreditava nas gaivotas com coração de prata

e lábios desconexos percorrendo searas adormecidas

e voando mais alto, perdiam-se, como os grãos de areia de fina estampa

 

nos corpos de madeira depois de derrubadas,

depois de assassinadas, todas as árvores e arvoredos

que a insónia imprime nos teus seios de pedra-pomes,

havíamos um dia de cruzarmo-nos numa rua sem saída

que o tempo deixou esquecida na cidade dos fantasmas vaidosos,

 

não acreditei,

não percebi que das sombras cinzas dos cigarros perdidos

pudesse sair o teu corpo húmido como uma manhã quando a neblina,

espessa, árida, cobre o rio com todas as gotinhas do suor tua pele,

quando a tua neblina penetra incessantemente as flores de um jardim enforcado,

 

um jardim sombreado, lapidado a lápis de cor,

eu ouvia

e,

eu ouvia e sentia nos teus doces lábios o cansaço dos dias

e das noites como um náufrago

 

há procura das rochas vermelhas,

roubava ao luar a sanidade mental de estar vivo,

e acreditar que amanhã,

depois de acordares,

deixavas de inventar o medo, e me abraçavas como as sílabas deitadas na página de um caderno...

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