domingo, 13 de outubro de 2024

as luzes suicidam-se no precipício do oceano

 

ao longe

longe muito longe

longínquo

vivem as palavras “acreditar” e “ter esperança”

ao longe

corro

corro desalmadamente

e não lhes consigo tocar

 

ao longe

longe na ardósia da saudade

e deixei de acreditar

e deixo de ter esperança

 

ao longe muito, muito longe

longe vivem as palavras

longe dormem as sílabas

de longe longínquo vai o meu corpo à fornalha da solidão

do dia e da noite

as luzes suicidam-se no precipício do oceano

 

ao longe

choro e chora e choro

e mingua e minguo e mingua a charada da vida

na cidade pobre

da cidade perdida

e deixei de acreditar

e deixo de ter esperança

da solidariedade

 

(palavra filha da puta)

 

e deixei de acreditar

e deixo de ter esperança

que um dia

acorde o sol dentro de mim

que um dia

seja sempre dia

debaixo dos plátanos do jardim

que um dia que um dia as estrelas sejam de papel.

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