domingo, 13 de outubro de 2024

As fotografias em flor

 

Tínhamos o mar

e a bancarrota de uma existência fictícia

tínhamos um barco de prata

com sais de frutos para a ressaca

tínhamos uma barraca em lata

e solstícios com malícia

depois do deitar

e nunca sentíamos a falta do azar,

 

Das ruas cintilações dos xistos com rugas ao amanhecer

tínhamos cama roupa lavada e sexo na varanda

tínhamos o mar

e as janelas de esquecer

como todas as palavras em voos de falar

pequeníssimas entre as vozes de quem manda

e ninguém para nos separar

como os pássaros no Inverno à procura do calor e da solidão de viver,

 

Tínhamos na garganta

uma réstia de esperança

e amor

tínhamos no sótão da madrugada a pimenta

e os cigarros da lembrança

em flor

o fumo que alimenta

a insónia tua nossa janela entre as fotografias que a noite atormenta.

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