Uma laranja, só, em cima da mesa
Um cigarro acompanhado
por uma laranja, deitada, só, sobre a mesa,
Que olha o cigarro
embrulhado na maré do cinzeiro. Não é fácil ser cigano, muito pior é ser poeta
Melhor será,
Não ser nada.
Ou ser apenas,
Um cigarro.
Que arde na fimbria luz
dos teus olhos, e se o mar fosse os teus olhos,
Eu estava triste,
Porque não tinha o mar.
Galgo estas vedações de
sombra, corro montanha invisível abaixo,
E um loiro desejo
Não sabe o nome da
Primavera. Uma asa arde na fogueira dos teus lábios, supondo eu, que hoje a
noite está vestida de estrelas e de meninos e de meninas,
Que brincam no silêncio
do luar.
Tenho um livro para
escrever, mas não o escrevo, porque
Santa Apolónia tresandava
a milhares de vozes no esquecimento de um apito,
Lisboa/Santa Apolónia –
Porto/Campanhã. Eu acreditava sempre que chegava a casa quinta-feira, quando na
realidade, eu chegava a casa no sábado, e a minha partida era sempre à sexta-feira…
Parte na linha três o
comboio vagabundo com paragens em todos os locais com pilinha
Lisboa/Santa Apolónia –
Porto/Campanhã,
E às zero horas lá estava
eu com os meus camaradas na tasca das bifanas; diga-se, muito boas.
E sábado era quase noite
E eu
Quase de partida,
Porto/Campanhã - Lisboa/Santa
Apolónia,
segunda-feira, sete da
manhã, o tempo estava sempre quase bom, nem chovia, nem dormia,
tão pouco, fodia,
no entanto,
junto à noitinha,
havia sempre uma leve
brisa; que hoje faz-me lembrar o teu cabelo. Quando o vento o leva a passear
sob o olhar
dos
plátanos.
Fumava-se nas carruagens,
que reconheço, sendo eu fumador, a maior parvoíce. Lembro-me de ir ao médico e sobre
a secretária existir um cinzeiro e um cigarro que ardia enquanto me olhava a
garganta, ou dentro das salas de aulas, os professores que fumavam.
Nunca senti um cheiro tão
intenso a haxixe por milímetro cúbico
Como nas carruagens onde
iam militares…
Uma vez partíamos de
Campanhã e por causa de uma gaja, que ia com um velho, que um mancebo tinha
apalpado a donzela, o velho não
Gostou,
E que toda a carruagem envolta
de sombras, já andava tudo à pancada,
E só em Vila Nova de Gaia
é que tudo terminou com a paragem forçada do comboio e da entrada da policia. Uma
hora depois
Novamente em linha até
Santa Apolónia.
Depois não querem que eu
seja louco. Eu assistia a tudo isto e muito mais,
De braços cruzados,
Sorrindo.
Fumando coisas.
Como é?
Não vi…
Quero lá saber! Ainda hoje
sou assim…
Siga. Amanhã é outro dia.
Terça-feira, 10 de Setembro. Dia de embarcação
Para o Vilarelho.
O cacilheiro da tarde,
esquecia-se, quase sempre, dos triciclos que uma nuvem
Tinha deixado no cais de
Belém.
Para o Barreiro, às vezes,
se faz favor
Terra de muita industria,
Mas eu preferia
Belém. A calçada da
Ajuda.
Depois tínhamos sempre
uma desculpa para dar quando acordava a manhã,
Dói-me a cabeça,
E eu
Nunca tive cabeça.
Sei que hoje vou sonhar
com uma lâmpada de néon, quando a menina, sobre uma mesa, dançava
E os parolos,
A deitarem notas de mil
escudos sobre a mesa. Eu, deitei algumas,
E sorria,
De braços cruzados,
A fumar
Coisas. E a inventar
poemas para enviar à minha amada, quando eu ainda enviava poemas às mulheres,
Hoje,
Hoje não.
Deixei de enviar poemas.
09/Set/2024
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