terça-feira, 10 de setembro de 2024

Não sei o que sou.

Ainda não andava na escola e já eu inventava personagens que brincavam comigo debaixo da sombra

Das mangueiras.

Nasci em Luanda e qualquer coisa, muito poderosa, me prende,

Às vezes tenho a sensação de que se trata de um cheiro

Ou quem sabe,

De uma pessoa.

Lembro-me de uma menina que brincava comigo, era loirinha,

E nunca mais a vi.

 

Comecei a escrever desde muito novo, mas

Como sou muito

Tímido,

Escrevia, não mostrava a ninguém, e

Escondia.

Hoje tenho três caixas com mais de 1000 poemas, dactilografados,

E outros

Não,

Que espero muito em breve

Queimar.

Como queimei todos os desenhos da minha adolescência numa noite de heroína.

 

Comecei a apaixonar-me por barcos. O meu pai, todos os domingos, levava-me ao porto de mar e eu,

Delirava; com o tanho e com o cheiro intenso a nafta. Eu, adorava e tinha apenas 4 ou 5 anos.

Mas mesmo assim,

Sentia a falta, a mesma que hoje sinto, de qualquer coisa, que talvez nunca venha a saber,

Que coisa é essa.

 

Talvez um cheiro. Talvez, uma pessoa.


Sem comentários:

Enviar um comentário