segunda-feira, 30 de setembro de 2024

A falsa casa numa falsa morada (eu)

 

Em meu sangue flutuas como uma porcelana adormecida

uma Rainha desesperada

voas entre paredes e muros e escadas...

em meu corpo habitas falsamente no compartimento exíguo

onde deixo durante a noite alguns dos meus sonhos,

 

Finjo ter em mim uma morada

uma pequena casa com asas de papel

é triste a fachada

uma casa com cortinados de aço

onde suspendes os teus desejos quando desce a noite em nós,

 

Em nós?

Se tu não existes como não existem as amoreiras da nossa infância

como nunca existiram as cavernas encastradas nas rochas junto ao mar

éramos dois barcos com velas desenhadas numa sombra vinda do céu

como vinham até nós (Nós?) os silêncios amanheceres das falsas madrugadas,

 

E inventávamos janelas de abrir no sorriso dos transeuntes

que dizimavam cigarros de enrolar

ouvíamos o ruído da água sibilando das finas esferas de açúcar

que brincavam no corredor da memória...

havíamos de reencontrarmo-nos numa qualquer paragem do eléctrico,

 

E nós?

Pergunto se algum dia existiu Nós em nós?

Um vocabulário apreendido pela polícia numa rusga em Alcântara

mesas cadeira e nós

nós? Quem somos nós?

Sem comentários:

Enviar um comentário