Em meu sangue flutuas
como uma porcelana adormecida
uma Rainha desesperada
voas entre paredes e
muros e escadas...
em meu corpo habitas
falsamente no compartimento exíguo
onde deixo durante a
noite alguns dos meus sonhos,
Finjo ter em mim uma
morada
uma pequena casa com asas
de papel
é triste a fachada
uma casa com cortinados
de aço
onde suspendes os teus
desejos quando desce a noite em nós,
Em nós?
Se tu não existes como
não existem as amoreiras da nossa infância
como nunca existiram as
cavernas encastradas nas rochas junto ao mar
éramos dois barcos com
velas desenhadas numa sombra vinda do céu
como vinham até nós
(Nós?) os silêncios amanheceres das falsas madrugadas,
E inventávamos janelas de
abrir no sorriso dos transeuntes
que dizimavam cigarros de
enrolar
ouvíamos o ruído da água
sibilando das finas esferas de açúcar
que brincavam no corredor
da memória...
havíamos de reencontrarmo-nos
numa qualquer paragem do eléctrico,
E nós?
Pergunto se algum dia
existiu Nós em nós?
Um vocabulário apreendido
pela polícia numa rusga em Alcântara
mesas cadeira e nós
nós? Quem somos nós?
Sem comentários:
Enviar um comentário