quinta-feira, 22 de agosto de 2024

 

O primeiro barco aproxima-se do meu corpo. Sinto-o. Sinto a noite do aço frio que toca na minha pele,

E um oceano de luz

Voa sobre o meu cabelo desajeitado,

No primeiro degrau da manhã,

Quando ainda o padeiro

Mete lenha ao forno,

E eu,

Espero e desespero

Pelo pão freso do pequeno-almoço.

 

Tomo o primeiro café. Tomo o segundo café. Fumo o quinto cigarro,

E quase que adormeço em frente ao espelho.

Vou à janela, a paisagem de sempre, os pássaros de sempre, os sons de sempre.

Apenas o poema que acabo de ler, não é o poema de ontem.

Outro barco se aproxima, do meu corpo, e percebo que muito em breve vou ficar prensado entre dois pedaços de aço. Fico sem sexo.

Fico sem mãos, para acariciar o meu sexo. Sou agora uma fina lâmina de sono… à procura de uma sucata.

 

Tomo banho. Não desfaço a barba, porque não gosto de desfazer a barba.

Tomo o meu terceiro café e fumo o meu sexto cigarro. E sento-me um pouco nas escadas, e fico por ali, acreditando que um qualquer sucateiro virá buscar os meus destroços…

 

Assim é, o acordar deste poeta.

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