O primeiro barco
aproxima-se do meu corpo. Sinto-o. Sinto a noite do aço frio que toca na minha
pele,
E um oceano de luz
Voa sobre o meu cabelo
desajeitado,
No primeiro degrau da
manhã,
Quando ainda o padeiro
Mete lenha ao forno,
E eu,
Espero e desespero
Pelo pão freso do
pequeno-almoço.
Tomo o primeiro café. Tomo
o segundo café. Fumo o quinto cigarro,
E quase que adormeço em
frente ao espelho.
Vou à janela, a paisagem
de sempre, os pássaros de sempre, os sons de sempre.
Apenas o poema que acabo
de ler, não é o poema de ontem.
Outro barco se aproxima,
do meu corpo, e percebo que muito em breve vou ficar prensado entre dois
pedaços de aço. Fico sem sexo.
Fico sem mãos, para
acariciar o meu sexo. Sou agora uma fina lâmina de sono… à procura de uma
sucata.
Tomo banho. Não desfaço a
barba, porque não gosto de desfazer a barba.
Tomo o meu terceiro café
e fumo o meu sexto cigarro. E sento-me um pouco nas escadas, e fico por ali,
acreditando que um qualquer sucateiro virá buscar os meus destroços…
Assim é, o acordar deste
poeta.
Sem comentários:
Enviar um comentário