domingo, 21 de julho de 2024

 

Belém era um cemitério de paneleiros e de prostitutos que habitavam no subsolo do desejo, que a troco de quase nada, depois guerreavam-se para ver a quem tinha pertencido o melhor broxe da noite.

Ao outro dia ainda traziam pedacinhos de migalhas de esperma do jantar do dia anterior,

E era quase sempre um BMW o vencedor.

 

Depois, apressadamente, agarravam-se à primeira puta que encontravam. Agarravam-lhes nas nádegas, enquanto elas em pé e de pernas afastadas, e de mãos encostadas à parede, já tarde, faziam a contabilidade do dia, em total indiferença…, eles, vinham-se na fimbria raiva dos sentidos e com alguns escudos no bolso.

 

Eles saíam, elas juntavam as pernas, puxavam as cuecas, puxavam de um cigarro e acabavam quase sempre nos riscos de uma prata de alumínio ou algumas vezes, num silêncio de coca.

 

Eu tinha uma namorada que se encontrava comigo sempre no final da tarde, junto ao Padrão dos Descobrimentos, dávamos a mão, sentávamo-nos junto ao Tejo e fumávamos um charro, depois acabávamos a escrever coisas num caderninho ou a lermos poesia em conjunto,

Às vezes íamos ao Casal Ventoso, e aí, quase sempre, uma alegria infinita se apoderava de mim, e fazia-me feliz,

 

E talvez seja essa a felicidade que me falta neste momento.

 

Ela deitava a cabeça no meu colo, eu afagava-lhe o cabelo, enquanto se perdia de olhares com as luzes da outra margem do Tejo. Sempre este Tejo que nos levava a procurar a primeira pensão disponível e deprimente e barata; os nossos corpos abraçavam-se num qualquer andar das redondezas, da janela recebíamos o cheiro único daquele rio poético e mítico. E éramos apenas um corpo…

 

Sem sabermos que hoje eu estaria aqui, sempre à espera de um barco, sempre, sempre à espera dos corpos mutilados por um punhado de prazer,

E hoje não sei a que mundo pertences…

E talvez seja essa a felicidade que me falta neste momento!

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