Belém era um cemitério de
paneleiros e de prostitutos que habitavam no subsolo do desejo, que a troco de
quase nada, depois guerreavam-se para ver a quem tinha pertencido o melhor
broxe da noite.
Ao outro dia ainda traziam
pedacinhos de migalhas de esperma do jantar do dia anterior,
E era quase sempre um BMW
o vencedor.
Depois, apressadamente, agarravam-se
à primeira puta que encontravam. Agarravam-lhes nas nádegas, enquanto elas em
pé e de pernas afastadas, e de mãos encostadas à parede, já tarde, faziam a
contabilidade do dia, em total indiferença…, eles, vinham-se na fimbria raiva
dos sentidos e com alguns escudos no bolso.
Eles saíam, elas juntavam
as pernas, puxavam as cuecas, puxavam de um cigarro e acabavam quase sempre nos
riscos de uma prata de alumínio ou algumas vezes, num silêncio de coca.
Eu tinha uma namorada que
se encontrava comigo sempre no final da tarde, junto ao Padrão dos Descobrimentos,
dávamos a mão, sentávamo-nos junto ao Tejo e fumávamos um charro, depois acabávamos
a escrever coisas num caderninho ou a lermos poesia em conjunto,
Às vezes íamos ao Casal
Ventoso, e aí, quase sempre, uma alegria infinita se apoderava de mim, e
fazia-me feliz,
E talvez seja essa a
felicidade que me falta neste momento.
Ela deitava a cabeça no
meu colo, eu afagava-lhe o cabelo, enquanto se perdia de olhares com as luzes da
outra margem do Tejo. Sempre este Tejo que nos levava a procurar a primeira pensão
disponível e deprimente e barata; os nossos corpos abraçavam-se num qualquer
andar das redondezas, da janela recebíamos o cheiro único daquele rio poético e
mítico. E éramos apenas um corpo…
Sem sabermos que hoje eu
estaria aqui, sempre à espera de um barco, sempre, sempre à espera dos corpos
mutilados por um punhado de prazer,
E hoje não sei a que
mundo pertences…
E talvez seja essa a
felicidade que me falta neste momento!
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