sexta-feira, 19 de abril de 2024

Viagem

 

Uma viagem sem destino, uma viagem sem fim, que nunca será viagem

Viajará este corpo desengonçado pelas lajes invisíveis da tarde

Serpentear a janela, juntar dois decilitros de leite e meia colher de veneno, depois, agitar

Beber descansadamente enquanto o poema arde no interior de um cigarro

Uma viagem sem regresso, regressar para quê…

Se partimos do ponto (A) porque temos sempre de regressar ao ponto (A) e não a um outro qualquer ponto

Talvez um (B`)

Ou um (C)

 

Sem destino, esta viagem, sem final à vista

A não ser um caixão de cartolina

Para guardar os berlindes

E da janela vê-se o comboio que logo

Logo

Estará no meu peito

E o meu corpo transforma-se em locomotiva

Pincelada de açafrão e mirra e deus queira que mais logo

O comboio não venha apinhado de cadáveres de insónia

 

Eu, o comandante desta locomotiva louca, de cabelos ao vento e cuspindo línguas de sangue, da tuberculose da noite anterior

Eu, o viajante sem destino, sem regresso… ao apeadeiro da noite

Estará ele morto

Quando ainda conseguiu abrir os braços

E do trigésimo quinto andar

Vou em direcção à felicidade;

Coitado dele, dizem que não sofrerá mais.


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