Uma viagem sem destino,
uma viagem sem fim, que nunca será viagem
Viajará este corpo
desengonçado pelas lajes invisíveis da tarde
Serpentear a janela,
juntar dois decilitros de leite e meia colher de veneno, depois, agitar
Beber descansadamente
enquanto o poema arde no interior de um cigarro
Uma viagem sem regresso,
regressar para quê…
Se partimos do ponto (A) porque
temos sempre de regressar ao ponto (A) e não a um outro qualquer ponto
Talvez um (B`)
Ou um (C)
Sem destino, esta viagem,
sem final à vista
A não ser um caixão de
cartolina
Para guardar os berlindes
E da janela vê-se o
comboio que logo
Logo
Estará no meu peito
E o meu corpo transforma-se
em locomotiva
Pincelada de açafrão e
mirra e deus queira que mais logo
O comboio não venha apinhado
de cadáveres de insónia
Eu, o comandante desta
locomotiva louca, de cabelos ao vento e cuspindo línguas de sangue, da
tuberculose da noite anterior
Eu, o viajante sem
destino, sem regresso… ao apeadeiro da noite
Estará ele morto
Quando ainda conseguiu
abrir os braços
E do trigésimo quinto
andar
Vou em direcção à
felicidade;
Coitado dele, dizem que
não sofrerá mais.
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