Aos poucos, as coisas simples e belas, desistem de mim
Aos poucos vejo a beleza
da vida dentro de uma conduta capilar
Onde um fluido, frio e
escuro, foge a sete-pés como o diabo fugiu da cruz
Aos poucos, percebo que
estou só, completamente só, como sós estão os embondeiros
E o capim das sanzalas
Aos poucos, na minha
cidade começaram a construir muros, depois, alguém se lembrou de espelhar esses
muros
Hoje vivo dentro de oito
espelhos, um cubo perfeito com desejo de insónia
Também ela, também eu,
completamente sós
Nós
E a noite
Aos poucos, as coisas de que
eu gostava, começam a despedir-se, lentamente, como que daqui a nada seja noite
e não haja iluminação para afugentar as estrelas
E aos poucos, fico cada
vez mais só dentro destes oito espelhos, sem janelas, sem ratoeiras onde possam
cair perfeitamente dois gramas de qualquer coisa
Que não tenha medo de mim
Que não se esconda de mim
Aos poucos, as coisas
simples tornam-se complicadas, e as complicadas, suicidam-se numas quaisquer coxas
envenenadas por uma serpente
Aos poucos, tenho medo
Aos poucos fico só e até
o vento deixou de ser o vento
Aos poucos, até o mar
deixou de ser o mar
E diz-se por aí que é das
alterações climáticas
Para mim
É a solidão
O maior veneno que existe
para assassinar um homem enquanto ele dorme; é a solidão.
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