quarta-feira, fevereiro 28, 2024

 

Amo-te

pedra-pomes quando os teus seios apedrejam a sombra na água ferrugenta de uma mão,

quando o infinito de uma colher de pau

estatela-se contra os rochedos

e o amor por ti

aumenta como aumenta a saudade dentro de uma conduta hermeticamente só.

 

Sou um homem só.

Só pregado a este cortinado de sono, só à procura de peixes dentro deste copo de uísque e de peixes se fazem braços.

 

Só à tua espera juntando os cacos de areia que trazia na algibeira,

só,

amo-te

pedra-pomes que uma betoneira de vidro tritura quando cai a noite na boca de um pássaro,

ele morre,

eu amo-te

e penso-te

e penso-me

e amo-te no confinado buraco que dá a volta à terra, e que morre quando acorda o dia.

 

Sonho-te enquanto a noite arde nesta lareira de desejo, quando sei que os teus olhos também ardem e incendeiam a noite,

em puro desejo misturado com cem gramas de mel,

puro e virgem.

Amar-te e desejar-te.

 

Amo-te

e não me cansava de falar-te de Joan Miró, André Breton, René Magritte, Cesariny, Cruzeiro Seixas,

e não me cansava de deitar a cabeça no teu peito e ouvir o mar,

e escrever na areia

 

amo-te.

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