sexta-feira, 15 de setembro de 2023

O Corvo

 Olho-te.

Poiso a minha mão no teu corpo

Como se fosse o dia a chamar a noite,

Lhe desse um beijo…

E partisse para o outro lado do rio.

 

Olho-te

Dentro deste infinito labirinto de saudade,

Dentro deste círculo de tristeza,

Olho-te sabendo que não me ouves,

E que estás longe,

E que voas…

Sobre o pinhal de Carvalhais.

 

Olho-te.

Poiso a minha mão no teu olhar,

Ao de leve,

Como se eu fosse um pedacinho de luz,

Olho-te

E perco-me na tua sombra estonteante,

Debaixo dos teus gemidos

Que se erguiam na madrugada…

E não terminavam nunca.

 

Olho-te

E sei que me olhas,

E sei que vês e sentes o meu rosto…

Impregnado nesta tela sem nome,

Dentro deste pincelado desejo…

De voltar a ver-te,

Tocar-te,

Sem que percebesses que te via,

Sem que percebesses que te tocava…

E olhava-te,

 

No eterno pigmento lunar

Das mandíbulas entre quatro parêntesis rectos,

Uma equação

E um punhado de nada,

 

(Olho-te.

Poiso a minha mão no teu corpo

Como se fosse o dia a chamar a noite,

Lhe desse um beijo…

E partisse para o outro lado do rio)

 

Olho-te

Fingindo que estou parente a mais bela lâmina de medo,

Quando percebo que lá fora, distante de mim,

Voas como um corvo esfomeado,

À procura do meu último poema.

 

 

 

Luís

15/09/2023

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