Aos beijos versados
Argamasso as palavras
envenenadas no silêncio,
Escuto, sinto a tua voz melódica
de incenso
Quando voa na ressurreição
do desenho,
E nas catacumbas da
solidão,
Vejo os teus lábios incinerados
na madrugada,
Como se todos os pássaros
fossem filhos de Deus.
Há na palavra
Uma oração cansada,
Distante de mim,
Distante da alvorada.
Aos beijos versados
Lanço as flores do meu
jardim,
São flores em liberdade,
São pedaços de mim.
E o poema ergue-se como
se erguem as vozes
Que chamam por Deus,
Ou que se revoltam contra
Deus,
Como se Deus fosse o
culpado,
Do poema estar
envenenado,
Ou…
Os teus beijos
Sejam versados,
No espelho da paixão.
Aqui me sento sem prazer,
Lendo, escrevendo,
Ou em nada fazer.
Mas dizem que Deus está a
ver,
Que nos olha como olhava
por mim
A minha mãe, em viagem
sem regresso…
Ao pó os teus pedaços ósseos
Na garganta do tumor,
E que esta viagem sem regresso
Seja apenas uma
fotografia,
Recordação;
Nos beijos versados, o
poema está vivo, vivo e em dor.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 19/01/2022
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