sábado, 7 de novembro de 2015

os segredos


tínhamos nas veias a fúria das tempestades de areia

mergulhadas nas madrugadas envenenadas

a solidão da esperança

de nunca ancorarmos ao silêncio

e de ele alicerçado aos nossos braços

éramos crianças

e dançávamos sobre a toalha límpida do mar

havia sempre um telhado zincado ao nosso alcance

uma esplanada abandonada

uma ou duas ou três cadeiras sem ninguém

sentávamo-nos e voávamos em direcção ao nada…

para depois adormecermos na praia

ao relento

o monstro da noite

vinha das árvores

trazia-nos palavras rasuradas numa triste ardósia

que só o tempo conseguiu apagar

sem demora

sentávamo-nos em círculos

quadrados

sombras geométricas na clandestinidade…

para morrermos na aldeia mais próxima

da infância

desprovidos dos segredos das fotografias poisadas nas nossas mãos

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 7 de Novembro de 2015

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