foto: A&M ART and Photos
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Havia uma louca paisagem
acorrentada à Cinderela manhã com
sorrisos de nada
um pedaço de ti mergulhava em sombras
com braços despidos
proibidas as melodias teu cansaço...
havia uma tal de Josefina... inventava
tigelas de marmelada
que à janela secavam e às vezes dos
vorazes sons do papel vegetal
voavam neblinas de insónia e
projecteis de orvalho no final do dia
como acontece aos meninos que brincam
debaixo das madalenas árvores de sonhar...
Eras quase noite
trazias-me os sonhos embrulhados em
finas toalhas bordadas pela mãe Arminda
(às vezes zango-a dizendo-lhe que são
trapos)
velharias em exposição que um
vendedor ambulante tentava impingir-nos a todo o custo
cachimbos e bonés de militar da
ex-URSS... livros velhos com presença de dores musculares
havíamos embainhado os relógios
nossos pulsos em pequenos cabelos ramificados
como cabos de aço a prenderem
petroleiros no corredor desgosto do ser
o papel de embrulho sempre deitado
sobre o velho balcão em madeira apodrecida,
O cheiro da roupa depois do sexo
o perfume do sémen impregnado nas
oliveiras além socalcos
como ventoinhas em suspenso no tecto da
cubata esquecida sobre o Tejo
tínhamos medo da ponte de ferro
e dormíamos nos bancos de jardim
porque queríamos escrever sobre os joelhos cansados da madrugada
havia uma louca paisagem com uma louca
casa e uma louca varanda
dos teus loucos beijos
em tuas grandes loucas mamas de
amanhecer violento depois das tempestades palavras...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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