quinta-feira, 6 de junho de 2013

Eras quase noite

foto: A&M ART and Photos

Havia uma louca paisagem
acorrentada à Cinderela manhã com sorrisos de nada
um pedaço de ti mergulhava em sombras com braços despidos
proibidas as melodias teu cansaço...
havia uma tal de Josefina... inventava tigelas de marmelada
que à janela secavam e às vezes dos vorazes sons do papel vegetal
voavam neblinas de insónia e projecteis de orvalho no final do dia
como acontece aos meninos que brincam debaixo das madalenas árvores de sonhar...

Eras quase noite
trazias-me os sonhos embrulhados em finas toalhas bordadas pela mãe Arminda
(às vezes zango-a dizendo-lhe que são trapos)
velharias em exposição que um vendedor ambulante tentava impingir-nos a todo o custo
cachimbos e bonés de militar da ex-URSS... livros velhos com presença de dores musculares
havíamos embainhado os relógios nossos pulsos em pequenos cabelos ramificados
como cabos de aço a prenderem petroleiros no corredor desgosto do ser
o papel de embrulho sempre deitado sobre o velho balcão em madeira apodrecida,

O cheiro da roupa depois do sexo
o perfume do sémen impregnado nas oliveiras além socalcos
como ventoinhas em suspenso no tecto da cubata esquecida sobre o Tejo
tínhamos medo da ponte de ferro
e dormíamos nos bancos de jardim porque queríamos escrever sobre os joelhos cansados da madrugada
havia uma louca paisagem com uma louca casa e uma louca varanda
dos teus loucos beijos
em tuas grandes loucas mamas de amanhecer violento depois das tempestades palavras...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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