domingo, 5 de maio de 2013

Espelho dos sonhos

foto: A&M ART and Photos

Dizem que me inventaram numa noite de espinhos
quando dormia o sono
e todos os cheiros do teu corpo
deambulavam entre paredes de gesso
e pequenos quadrados de vidro
que a insónia lhes pegava com a mão
e os acariciava num espaço vazio
penumbro,

E fino como as asas dos anjos de brincar...
estou a falar da janela dos sonhos
e do espelho da saudade
onde me miro todos os dias ao acordar
e vejo-me crescer como crescem as ervas debaixo das lâminas de papel,

E vejo-me voar sobre as pétalas encarnadas da tristeza
dizem-me que fui inventada
pela mão de uma nuvem cinzenta
quando ainda existiam nuvens cinzentas na planície dos malignos esconderijos da paixão,

Hoje sou poeira como cigarros num quarto de vidro
a que alguns chamam de cinzeiro
outros delírios meus enquanto não me absorves e te alimentas de mim
dizem que fui inventada por ti
e aqui estou
esperando pelas tuas mandíbulas azuis que vivem dentro do medo,

Esperando pelas tuas mãos de cedro
que trazes nos olhos e das estrelas vadias...
os fins de tarde entalados no Tejo depois de amarelos peixes esquisitos
abraçarem-se-me e levarem-me antes de regressares para me resgatares do inferno
sentido que o amor deixa impregnado nas roupas minha pele...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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