sábado, 9 de março de 2013

A fuga inventada


Inventei distâncias para fugir de ti
criei dentro de mim
personagens invisíveis
bonecos e bonecas em pura porcelana
vivi menti
como um agarrado jardim
às árvores comestíveis
dos corpos mortos na lareira chama,

Como me arrependo das caminhadas pela montanha
comendo ervas daninhas
ou aguentando o castigado castigo
do homem com cabeça de vidro
dormíamos inventando prazeres
e pequenos gemidos
que a noite engolia
e o dia
o querido dia transpirava
vomitava
contra as ardósias das ruas em desalinho
dentro de mim invenção da manhã doente e sonolenta,

Inventei o coração de prata
e o orgasmo matinal
inventei os relógios de sol
e os telhados de lata,

Inventei distâncias para fugir de ti
desenhei versos de amor
nas parede insolentes
dos corpos com colares de iodo
inventei a loucura
e as enfermarias onde acorrentam Marias
e a mim
que inventei as árvores com folhas de papel...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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