domingo, 16 de dezembro de 2012

não sabe ou não quer responder

estão tão distantes, as tuas mãos, de água, lá fora insípidas carruagens de espuma desaguam dentro do silêncio ma mortalidade horária que o jantar provoca em ti, ficas triste, ausente, mente, sem saberes o que fazer depois das larvas clandestinas do sorriso acordarem no teu rosto, estão, tão, tão distantes, as tuas

- as minhas mãos, de água, docemente, mente, lá fora chove, lá fora oiço o rosnar de uma nuvem com cabeça de vidro e braços e pernas, oiço-as, as tuas pequenas frases do caderno de prata, a cigarrilha atulhada de fantasmas cigarros em cadáver desperdiçados na madrugada, oiço-as, lá fora,

verdade, as tuas mandíbulas de aço no pilares circulares da estrutura óssea, abraço-a, abraço-as, todas as palavras tristes, cansadas, docemente camufladas nas árvores cobertas pelo cetim adormecido da neblina que cobre a cidade das andorinhas não sindicalizadas, coitadas, em delírio, apoiadas pelos arames enferrujados das ruas

- como me chamo?

não tens nome, não foste baptizado, não tens religião, partido politico ou pátria, és um falhado, um falhado embrulhado em palavras,

- o chicharro assado na brasa,

embrulhado no jornal de ontem, um barco com nome regressa de longe, sereias e marmelos, (o chicharro assado na brasa), ele suspenso nas minhas mãos

- como me chamo?

- não mãos,

os algerozes indignos da aldeia, o chicharro indigesto, o chicharro assado na brasa e poeirento como um livro de poemas esquecido sobre o peito dela, nas mãos, elas, nós engraçados à espera de uma mesa na esplanada dos sentidos, sentido, ouvia-o, nas caravelas de chocolate servidas num bandeja de madeira, não mãos, ele suspenso nas minhas mãos

- a canja de galinha muito boa, havia música nocturna na cave da Marilú, havia gajas com pedaços de uma sande de torresmos e coiratos, Ai filho vai uma voltinha? O carrossel em tosse e convulsão, a haste limiar do coração da galinha tonta, como me chamo?

não sabe ou não quer responder, escreveu a vítima na parede de silicone que o velho Armindo escondeu nos bolsos das manhãs de inverno, nas minhas mãos, como te chamas? Embrulhado no jornal de ontem, um barco com nome regressa de longe, sereias e marmelos, (o chicharro assado na brasa), ele suspenso nas minhas mãos, coitado do jornal de parede, coitado do chicharro, coitada de mim, só, triste, abandonada, coitada de mim, coitada

- não mãos,

às vezes os poemas emperravam nas engrenagens do carrossel, a haste metálica sumia-se e ninguém, ninguém para me beijar, ela

- um beijo, um simples e único beijo.


(texto de ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

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