estão tão distantes, as
tuas mãos, de água, lá fora insípidas carruagens de espuma
desaguam dentro do silêncio ma mortalidade horária que o jantar
provoca em ti, ficas triste, ausente, mente, sem saberes o que fazer
depois das larvas clandestinas do sorriso acordarem no teu rosto,
estão, tão, tão distantes, as tuas
- as minhas mãos, de
água, docemente, mente, lá fora chove, lá fora oiço o rosnar de
uma nuvem com cabeça de vidro e braços e pernas, oiço-as, as tuas
pequenas frases do caderno de prata, a cigarrilha atulhada de
fantasmas cigarros em cadáver desperdiçados na madrugada, oiço-as,
lá fora,
verdade, as tuas
mandíbulas de aço no pilares circulares da estrutura óssea,
abraço-a, abraço-as, todas as palavras tristes, cansadas, docemente
camufladas nas árvores cobertas pelo cetim adormecido da neblina que
cobre a cidade das andorinhas não sindicalizadas, coitadas, em
delírio, apoiadas pelos arames enferrujados das ruas
- como me chamo?
não tens nome, não
foste baptizado, não tens religião, partido politico ou pátria, és
um falhado, um falhado embrulhado em palavras,
- o chicharro assado na
brasa,
embrulhado no jornal de
ontem, um barco com nome regressa de longe, sereias e marmelos, (o
chicharro assado na brasa), ele suspenso nas minhas mãos
- como me chamo?
- não mãos,
os algerozes indignos da
aldeia, o chicharro indigesto, o chicharro assado na brasa e
poeirento como um livro de poemas esquecido sobre o peito dela, nas
mãos, elas, nós engraçados à espera de uma mesa na esplanada dos
sentidos, sentido, ouvia-o, nas caravelas de chocolate servidas num
bandeja de madeira, não mãos, ele suspenso nas minhas mãos
- a canja de galinha
muito boa, havia música nocturna na cave da Marilú, havia gajas com
pedaços de uma sande de torresmos e coiratos, Ai filho vai uma
voltinha? O carrossel em tosse e convulsão, a haste limiar do
coração da galinha tonta, como me chamo?
não sabe ou não quer
responder, escreveu a vítima na parede de silicone que o velho
Armindo escondeu nos bolsos das manhãs de inverno, nas minhas mãos,
como te chamas? Embrulhado no jornal de ontem, um barco com nome
regressa de longe, sereias e marmelos, (o chicharro assado na brasa),
ele suspenso nas minhas mãos, coitado do jornal de parede, coitado
do chicharro, coitada de mim, só, triste, abandonada, coitada de
mim, coitada
- não mãos,
às vezes os poemas
emperravam nas engrenagens do carrossel, a haste metálica sumia-se e
ninguém, ninguém para me beijar, ela
- um beijo, um simples e
único beijo.
(texto de ficção não
revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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